Pelo jeito não haverá quem nos salve do golpe....
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Em 04/07/2015, às 11:28, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:
ANDRÉ SINGER
Virada conservadora?
04/07/2015
Sob o cerco das três frentes - economia, Petrobras e presidência da Câmara -
que ameaçam os avanços da última década, o semestre chega ao fim com
preocupante saldo de perdas sociais, graves denúncias de corrupção e
retrocessos legislativos. Ao aprovar anteontem de madrugada a redução da
maioridade penal, em nova manobra suspeita, o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) produziu acorde final digno dos movimentos que se ouviram nos meses
anteriores.
Caberá ao Senado, no próximo período, o protagonismo de avaliar as três
medidas polêmicas preparadas por Cunha. Refiro-me à terceirização das
atividades fins, à constitucionalização das doações empresariais aos
partidos, e à já referida alteração na idade mínima para o encarceramento.
Com certeza, Renan Calheiros, à frente da Casa revisora, fará uso do espaço
na mídia que lhe cabe, mas se o ambiente social permanecer como o de hoje,
não se deve esperar mudanças substantivas.
Neste ponto, a ousadia oposicionista de Cunha, fonte da unidade construída
entre deputados tucanos e peemedebistas, se entrelaça com a profunda crise
que atinge o governo e o PT. Tendo perdido apoio da própria base em função da
condução econômica, Lula, Dilma e o Partido dos Trabalhadores deixaram órfãos
os setores da sociedade comprometidos com a agenda progressista. Nesta hora
se percebe o quanto, apesar de todas as contradições, o lulismo oferecia uma
direção capaz de organizar maiorias.
Sem ela, a articulação entre PMDB e PSDB, muito bem urdida por Cunha, e que
esteve na base das três propostas aprovadas, ameaça tornar-se hegemônica. De
maneira quase infantil, o lulismo caiu na besteira de cometer estelionato
eleitoral e agora, a cada aumento do desemprego e queda da renda, vê aumentar
o isolamento em que se meteu. Diante do custo a longo prazo, ter perdido a
eleição de 2014 seria prejuízo menor.
Tem mais. A incapacidade de responder às acusações que emergem da Operação
Lava Jato ameaça manchar o petismo por tempo indefinido. Conscientes da
gravidade do quadro, inúmeros movimentos e partidos buscam formar frente
ampla, de modo a suprir a ausência de alternativas à esquerda. Não se trata,
como acusa a direita, de esconder o PT, mas de oferecer saídas que o PT, de
maneira isolada, não pode apresentar.
O ex-governador Leonel Brizola gostava de dizer que ter ou não ter programa
era o de menos. Bastava encomendar a algum intelectual e chegaria pelo
correio. Para a frente que está em gestação vale o contrário. Se não
conseguir formular alternativa viável e que dialogue com a população, a
virada conservadora, que ainda não se deu, mas está anunciada na liderança de
Cunha, vai se consolidar.
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Niquele