[CamaraDas] Re: RES: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Thu, 12 Mar 2009 02:09:07 -0300

   ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::

Comento cada trecho. Comentários seus, antepostos por >>.


Em 12/03/09, Juliana Werneck de Souza<JuWerneck@xxxxxxxxxxxx> escreveu:
>    ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::
>
>> Como o assunto me comove, vou sair do meu padrão - que é o de evitar
>> discussões polêmicas, porque são, no mínimo, cansativas e entediantes - para
>> dar minha opinião mesmo sabendo contrária a de muitos.

No meu caso, só desisto da conversa quando há desrespeito. Não sendo
assim, tento batucar estas teclas como se tivesse conversando
pessoalmente com você. Discordando aqui e ali, concordando outras
tantas, como qualquer outro bom papo.

Na verdade, Ju, acho que sua opinião se coaduna com a de uma crescente
maioria. Vamos lá...


>> Não defendo aborto como método contraceptivo, mas não acho que deveria ser
>> proibido. Quem não concorda que não o faça, mas acho que a mulher deve ter,
>> sim, total liberdade sobre seu corpo, se assim o desejar.

Ocorre que não se trata apenas de um ser, mas de outro. O querer da
mãe influencia diretamente no destino de outrem.


>> E como uma gravidez é inviável fora do corpo e aquelas células em formação
>> dependem dela, acho que ela tem o direito de decidir se quer seguir em 
>> frente,
>> ou não, uma gravidez indesejada, sobretudo quando é fruto de um ato de
>> violência.

Forçoso se faz, então, definir quando começa a vida. Ou essas células
em formação já são vida ou não são. Se forem - e creio firmemente que
são -, então essa liberdade da mãe de dispor como quiser de seu corpo
pode resultar em assassinato. Não porque quero usar essas palavras
duras. Os próprios Códigos Penais o dizem (os cito apesar de eu não
ser propriamente um positivista).

Você já viu cenas de aborto? Da criancinha fugindo dos instrumentos
cirúrgicos dos médicos? Eu as vi, ainda na adolescência. Vi um filme,
narrado por um médico que defendia a causa do aborto e virou a casaca.
Ele sabe como poucos as estratégias abortistas. São chocantes...
Comoventes, mesmo. Parece que os bebês sabem o que lhes aguarda.


>> Eu que fui batizada na Igreja católica, mas hoje discordo de muitos de seus
>> dogmas e valores e por isso não a freqüento, não acho que deveria ter minha
>> vida ditada por essas regras discordantes das minhas.

Claro que entendo. É o caso da grande maioria.


>> Num caso desses, em que além de vítima de abuso sexual, há risco para a
>> saúde da mãe, temos dupla justificativa para o aborto, segundo a legislação
>> em vigor em nosso país.

Como havia apontado, poderia vir a se tornar, mas ainda não era caso de risco.
Quanto à legislação, veja que, mesmo nos casos de gravidez violenta, a
legislação não diz que o aborto deixa de ser crime (ou seja, não diz
que o aborto é um bem), ele apenas deixa de ser apenado.


>> Por isso acho que não deveria nem haver discussão de mérito a esse respeito e
>> os religiosos fervorosos poderiam ter a sensibilidade de guardar seus
>> argumentos para outros casos menos polêmicos, absurdos ou monstruosos.

Discordamos, aqui. Exatamente nesses casos os religiosos devem se
pronunciar. Eles não têm como impedir, mas têm absoluto direito de
protestar. Ora, no Parlamento, estamos cansados de ver pessoas
protestando por isso ou aquilo - quase sempre sobre algo que respinga
nos direitos de outrem; então, por que os religiosos não poderiam
fazê-lo? Configuraria a pouco convincente "interferência da Igreja em
assuntos temporais" se o eclesiástico tentasse fisicamente impedir.
Mas o simples protesto - e mesmo o recurso aos tribunais - é direito
democrático garantido a todos.

Ademais, vale o argumento inverso. Por que pessoas a todo instante
tentam se imiscuir em assuntos eminentemente eclesiásticos? Em
questões morais ou de fé, o religioso dê o seu pitaco, na esperança de
obter eco às suas ponderações. Diante da negativa, paciência e mais
orações. A vida continua.

Quanto aos casos polêmicos, ora, são certamente os casos onde pairam
maior dúvida quanto à moralidade dos atos. Aqui, as ponderações dos
religiosos são ainda mais necessárias. Explico melhor: por acaso
precisaria que algum religioso se pronunciasse acerca da moralidade do
estuprador? Claro que não, você não encontrará um só defensor público
do ato abominável. Já quanto ao aborto, veja você a quantas anda a
polêmica. Daí a necessidade de esclarecimentos.

A cantora Celine Dion, por exemplo, quase não veio ao mundo. Sua mãe
pensou em abortá-la (não, não foi gravidez violenta). Diante de
aconselhamentos de um padre, a mãe recuou. E por aí vai. Há muitos
casos semelhantes no interior - casos de estupro, inclusive - nos
quais a mãe desistiu do aborto.


>> Ou qual é a lógica de uma vida pela outra? A questão aqui não é 'valor'
>> ou 'distorção de valores'??

O primeiro hospital onde a menina foi internada não autorizou o
aborto. Ainda não estava certo o risco.


>> Sem falar em aspectos emocionais e sociais, uma gestação consome recursos
>> físicos da mulher - proteínas, sais minerais, ferro... , altera
>> completamente o organismo, imaginem isso num corpo de criança em
>> formação... Seria um despropósito. Aguardar até o sexto mês e submetê-la a
>> uma cirurgia?? Uma maldade maior ou tão grande como a que ela tem passado
>> por esses três anos... Imaginem essa criança indo para a escola e sendo vista
>> como uma personagem de circo dos horrores ou interrompendo sua infância para
>> ficar em repouso absoluto por meses por causa do risco de mil complicações
>> possíveis, em um local com mínima infraestrutura de saúde...
>> (...)
>> Como se já não bastasse todo o sofrimento e todo o estigma que carregará
>> para sempre..

Entra o que escrevi à Érika. Todos esses males - ninguém os minimize,
lógico! -justificam matar vidas inocentes? Acho que ela poderia tê-los
e entregá-los à adoção. Até porque ela própria gostaria de ter os
filhos - você deve ter lido as reportagens.


>> Imagina se ela tem uma ruptura uterina, perde seu útero e nunca mais possa 
>> ter
>> um filho??

Comentei alhures. Não havia risco caracterizado. Apenas hipóteses.


>> Quanto a esse fruto de uma maldita concepção ser um bem, Roberto, não estou
>> certa.

Acaso esse fruto não tem valor? Se tem, é um bem. Estenda-lhe a vida
por alguns meses, até o nascimento e reflita: este bebê, oriundo de um
estupro, tem valor? Dê-lhe mais alguns anos de vida e reflita
novamente: a vida deste garoto tem valor?

Para mim, toda vida é um bem, vinda de onde vier, como vier. São
valores pessoais.


>> O único bem que consigo visualizar nisso aí é ter exposto essa situação
>> absurda de violência doméstica de tal forma que essas duas meninas talvez
>> tenham a chance de ter um resto de vida sem que seus corpos (mentes e
>> corações) sejam continuamente violentados. Quem sabe poderão recuperar
>> alguma parte de sua infância destruída...

Sem dúvida. Ainda mais quando imaginamos que este é um dos poucos
casos que vieram à tona. Como não ter um nó lhe apertando a garganta
ao imaginar concretamente tal cena?...

Mas será que suas mentes e corações encontrarão paz ao verem que,
diante de uma violência inominável, cometeu-se outra maior? Terão
realmente seus espíritos apascentados?


> Se a questão é defender a vida, que se defenda a vida concreta e em curso
> dessa menina e a de tantas outras que estão sofrendo risco de morrer pela
> violência de criminosos fora ou dentro de suas casas.
>
> Abraços a todos,
> Juliana.

Pois é, Ju. A questão é que não só a pobre menina, como também a vida
no ventre é uma vida concreta, não um amontoado de células. Isso faz
toda a diferença.

Obrigado pela participação na conversa e desculpe pela extensão.

Abs,
Roberto Jardim.


> -----Mensagem original-----
> De: analistas2002-bounce@xxxxxxxxxxxxx
> [mailto:analistas2002-bounce@xxxxxxxxxxxxx] Em nome de Roberto Jardim
> Cavalcante
> Enviada em: quarta-feira, 11 de março de 2009 23:33
> Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
> Assunto: [CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd:
> Torquemada pernambucano)
>
>    ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::
>
> Sim, também creio acredito que não tenha estrutura para ser mãe.
> Deixe-me então esquematizar melhor:
>
> Criança de 9 anos ser mãe sem estar preparada, ainda mais fruto de
> estupro: um mal (ainda que bem relativo - a(s) vida(s) que ela carrega
> é (são) um bem).
>
> Morte de inocentes: outro mal.
>
> Aqui entra a doutrina do mal menor.
>
> Divergimos então, Érika, de qual seria o mal menor.
>
>
>
> Em 11/03/09, Érika Maia<erikamaia@xxxxxxxxx> escreveu:
>> Eu li os dois textos.
>> Mas a minha opinião não muda. Uma criança de nove anos não tem estrutura
>> para ser mãe. Esse é o ponto principal.

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