[CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Wed, 11 Mar 2009 23:32:55 -0300

   ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::

Sim, também creio acredito que não tenha estrutura para ser mãe.
Deixe-me então esquematizar melhor:

Criança de 9 anos ser mãe sem estar preparada, ainda mais fruto de
estupro: um mal (ainda que bem relativo - a(s) vida(s) que ela carrega
é (são) um bem).

Morte de inocentes: outro mal.

Aqui entra a doutrina do mal menor.

Divergimos então, Érika, de qual seria o mal menor.



Em 11/03/09, Érika Maia<erikamaia@xxxxxxxxx> escreveu:
> Eu li os dois textos.
> Mas a minha opinião não muda. Uma criança de nove anos não tem estrutura
> para ser mãe. Esse é o ponto principal.
>
> 2009/3/11 Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
>
>> Tantos detalhes sobre o caso... Eis alguns deles:
>>
>> Dê uma lida nos dois textos, Érika. Veja que a própria menina não foi
>> excomungada (aliás, não sei por que tanto estardalhaço da imprensa. Acaso
>> os
>> médicos estão minimamente chocados por terem sido excomungados?). Outro
>> detalhe teológico: o Código de Direito Canônico é que preceitua a
>> excomunhão
>> automática para os casos de aborto (diz-se "excomunhão latae sententiae"),
>> não o bispo. Este apenas lembrou que o caso prevê a excomunhão.
>>
>> Ademais, no momento do aborto, a criança não corria risco. O risco seria
>> maior se se levasse a gravidez a termo, mas poderia ser tentada a
>> cesariana
>> no sexto mês, por exemplo. Se você ler o texto a partir do link que já
>> enviei, verá que o primeiro hospital, inclusive, não tinha recomendado o
>> aborto. Ocorre que transferiram a menina às pressas para outro hospital -
>> mais tolerante à prática -, valendo-se da ignorância da mãe.
>>
>> Quanto aos médicos, não estavam puramente interessados na vida da criança.
>> São abortistas militantes - dão palestras a respeito, aliás. Isso não é
>> dito
>> em lugar nenhum. Um aluno deles - Vitor Costa, salvo engano - do décimo
>> período (são professores universitários) pediu que comprovassem a
>> inviabilidade da gestação e não obteve resposta, até o momento.
>>
>>
>>
>>
>> 2009/3/11 Érika Maia <erikamaia@xxxxxxxxx>
>>
>> Sou totalmente contra o aborto. Não considero justificável ceifar a vida
>> de
>>> inocentes em prol da "liberdade da mulher" em relação a seu corpo, como
>>> pregam os favoráveis ao assassinato de fetos. Se quer ter liberdade, que
>>> tome as devidas cautelas. Até mesmo em caso de estupro, se a mãe tem
>>> condições de ter o filho sem maiores complicações, acho que não se
>>> justifica.
>>> Contudo, mesmo sendo contra o aborto e mesmo sendo católica, não pude
>>> deixar de achar um absurdo a decisão de excomungar as pessoas envolvidas
>>> nesse caso. O autor do texto abaixo se esquece que uma CRIANÇA de 9 anos
>>> de
>>> idade não tem estrutura física, quem dirá psicológica para ter filhos. Em
>>> nome de preservar fetos, que muito provavelmente não chegariam nem a
>>> nascer,
>>> que só trariam mais sofrimento à CRIANÇA-MÃE, condenam o aborto efetuado
>>> pelos médicos. Parece que se esquecem de tudo o que a criança sofreu e de
>>> todo o sofrimento que lhe seria imposto por uma gravidez de gêmeos no seu
>>> frágil corpo de 9 anos de idade. Como ficaria o lado emocional dessa
>>> menininha? Eles não se importam: só querem se apegar ao fato de que houve
>>> um
>>> aborto. Paciência.
>>> Penso que toda regra tem suas exceções e que os médicos e a família só
>>> buscaram o desfecho menos traumático para esse caso.
>>>
>>>
>>> 2009/3/11 Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
>>>
>>>  Para conhecer a história do ponto de vista de quem a acompanhou desde
>>>> quando o caso se tornou público: *
>>>> http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm
>>>> *<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm>
>>>>
>>>> Segue também um comentário mostrando o outro lado da moeda, o qual
>>>> reproduzo na íntegra, a seguir: *
>>>> http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos
>>>> *<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos>
>>>>
>>>> [ ]s,
>>>>
>>>> Roberto Jardim.
>>>>
>>>> =====================================
>>>>
>>>> Jornal Gazeta do Povo (Curitiba)
>>>>
>>>> Estupro, aborto e valores distorcidos
>>>>
>>>> Publicado em 11/03/2009 | Carlos Ramalhete
>>>>
>>>> Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de
>>>> Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das
>>>> duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O
>>>> que
>>>> ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão
>>>> automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem
>>>> lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia
>>>> uma
>>>> vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o
>>>> caso.
>>>> A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor
>>>> que
>>>> o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores
>>>> já
>>>> chegaram a um final feliz.
>>>>
>>>> Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal
>>>> – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de
>>>> crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe,
>>>> exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho
>>>> contra
>>>> o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto
>>>> apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a
>>>> matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido
>>>> concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos
>>>> com
>>>> pena de morte pelo crime do pai.
>>>>
>>>> A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra
>>>> claramente o alcance
>>>> – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma
>>>> pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na
>>>> equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de
>>>> passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de
>>>> sua
>>>> morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram
>>>> do
>>>> ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os
>>>> cadáveres
>>>> em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do
>>>> juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.
>>>>
>>>> Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em
>>>> si,
>>>> para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria
>>>> valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o
>>>> bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças
>>>> abortadas
>>>> não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não
>>>> merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.
>>>>
>>>> Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de
>>>> lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um
>>>> estupro,
>>>> provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que
>>>> provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler
>>>> e
>>>> escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a
>>>> impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram
>>>> a
>>>> sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro,
>>>> teve
>>>> os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos,
>>>> sendo
>>>> tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material
>>>> a
>>>> abortar.
>>>>
>>>> É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado
>>>> preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação
>>>> de
>>>> utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida
>>>> dificilmente
>>>> seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.
>>>>
>>>> O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança
>>>> indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de
>>>> morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes
>>>> reações
>>>> pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse
>>>> estendida
>>>> ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete
>>>> vê em
>>>> sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo
>>>> fraco
>>>> e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade
>>>> da
>>>> vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o
>>>> que
>>>> é feito com seu corpo.
>>>>
>>>> A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada
>>>> sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada
>>>> pela
>>>> primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus
>>>> próprios filhos
>>>> – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da
>>>> violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida
>>>> humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de
>>>> propaganda,
>>>> ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em
>>>> paz
>>>> a campanha pró-aborto.
>>>>
>>>> Carlos Ramalhete é professor e filósofo.
>>>>
>>>>
>>>>
>>>> 2009/3/11 Raimundo Alves <rjalves07@xxxxxxxxx>
>>>>
>>>>> It's not mole, não...
>>>>>
>>>>>
>>>>>  ------------------------------
>>>>> *Enviada em:* terça-feira, 10 de março de 2009 19:15
>>>>> *Assunto:* ENC: Torquemada pernambucano
>>>>>
>>>>>  Quem diria, o espírito do maior inquisidor da Igreja, Tomás de
>>>>> Torquemada que no século XV purificou pelo menos 30.000 almas
>>>>> arrancando
>>>>> a ferro e fogo o Demonio que as dominava, baixou no minusculo corpo do
>>>>> arcebispo de Olinda-Recife. O liliputiano clérigo ao excomungar os
>>>>> médicos
>>>>> e parentes da garota que aos NOVE anos foi estuprada e engravidada de
>>>>> gêmeos, teve por recomendação MÉDICA e LEGAL que interromper a gravidez
>>>>> pois
>>>>> seu pequeno corpo ainda incompleto, corria risco de morrer se a
>>>>> gestação
>>>>> fosse levada adiante. Curiosamente, o estuprador não incorreu na
>>>>> excomunhão,
>>>>> sendo poupado pelo nano-arcebispo...  Teria sido um caso de
>>>>> corporativismo???   Seja como for, o poeta popular Miguezim de Princesa
>>>>> não
>>>>> poupou a ação tinhosa do pequeno-polegar da igreja pernambucana...
>>>>>
>>>>>
>>>>> *A EXCOMUNHÃO DA
>>>>> VÍTIMA<http://www.claudiohumberto.com.br/principal/index.php#this%23this>
>>>>> *
>>>>> *Miguezim de Princesa*
>>>>>
>>>>>
>>>>> I*
>>>>> **Peço à musa do improviso
>>>>> Que me dê inspiração,
>>>>> Ciência e sabedoria,
>>>>> Inteligência e razão,
>>>>> Peço que Deus que me proteja
>>>>> Para falar de uma igreja
>>>>> Que comete aberração.
>>>>>
>>>>> II
>>>>> Pelas fogueiras que arderam
>>>>> No tempo da Inquisição,
>>>>> Pelas mulheres queimadas
>>>>> Sem apelo ou compaixão,
>>>>> Pensava que o Vaticano
>>>>> Tinha mudado de plano,
>>>>> Abolido a excomunhão.
>>>>>
>>>>> III
>>>>> Mas o bispo Dom José,
>>>>> Um homem conservador,
>>>>> Tratou com impiedade
>>>>> A vítima de um estuprador,
>>>>> Massacrada e abusada,
>>>>> Sofrida e violentada,
>>>>> Sem futuro e sem amor.
>>>>>
>>>>> IV
>>>>> Depois que houve o estupro,
>>>>> A menina engravidou.
>>>>> Ela só tem nove anos,
>>>>> A Justiça autorizou
>>>>> Que a criança abortasse
>>>>> Antes que a vida brotasse
>>>>> Um fruto do desamor.
>>>>>
>>>>> V
>>>>> O aborto, já previsto
>>>>> Na nossa legislação,
>>>>> Teve o apoio declarado
>>>>> Do ministro Temporão,
>>>>> Que é médico bom e zeloso,
>>>>> E mostrou ser corajoso
>>>>> Ao enfrentar a questão.
>>>>>
>>>>> VI
>>>>> Além de excomungar
>>>>> O ministro Temporão,
>>>>> Dom José excomungou
>>>>> Da menina, sem razão,
>>>>> A mãe, a vó e a tia
>>>>> E se brincar puniria
>>>>> Até a quarta geração.
>>>>>
>>>>> VII
>>>>> É esquisito que a igreja,
>>>>> Que tanto prega o perdão,
>>>>> Resolva excomungar médicos
>>>>> Que cumpriram sua missão
>>>>> E num beco sem saída
>>>>> Livraram uma pobre vida
>>>>> Do fel da desilusão.
>>>>>
>>>>> VIII
>>>>> Mas o mundo está virado
>>>>> E cheio de desatinos:
>>>>> Missa virou presepada,
>>>>> Tem dança até do pepino,
>>>>> Padre que usa bermuda,
>>>>> Deixando mulher buchuda
>>>>> E bolindo com os meninos.
>>>>>
>>>>> IX
>>>>> Milhões morrendo de Aids:
>>>>> É grande a devastação,
>>>>> Mas a igreja acha bom
>>>>> Furunfar sem proteção
>>>>> E o padre prega na missa
>>>>> Que camisinha na lingüiça
>>>>> É uma coisa do Cão.
>>>>>
>>>>> X
>>>>> E esta quem me contou
>>>>> Foi Lima do Camarão:
>>>>> Dom José excomungou
>>>>> A equipe de plantão,
>>>>> A família da menina
>>>>> E o ministro Temporão,
>>>>> Mas para o estuprador,
>>>>> Que por certo perdoou,
>>>>> O arcebispo reservou
>>>>>  A vaga de sacristão.*
>>>>>
>>>>>
>>>>
>>>
>>
>

...............
   "A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o 
maior povo ex-católico do mundo.".

                                    Nelson Rodrigues
                                                   ...............


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