[CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: Érika Maia <erikamaia@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Wed, 11 Mar 2009 19:46:05 -0300

Eu li os dois textos.
Mas a minha opinião não muda. Uma criança de nove anos não tem estrutura
para ser mãe. Esse é o ponto principal.

2009/3/11 Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>

> Tantos detalhes sobre o caso... Eis alguns deles:
>
> Dê uma lida nos dois textos, Érika. Veja que a própria menina não foi
> excomungada (aliás, não sei por que tanto estardalhaço da imprensa. Acaso os
> médicos estão minimamente chocados por terem sido excomungados?). Outro
> detalhe teológico: o Código de Direito Canônico é que preceitua a excomunhão
> automática para os casos de aborto (diz-se "excomunhão latae sententiae"),
> não o bispo. Este apenas lembrou que o caso prevê a excomunhão.
>
> Ademais, no momento do aborto, a criança não corria risco. O risco seria
> maior se se levasse a gravidez a termo, mas poderia ser tentada a cesariana
> no sexto mês, por exemplo. Se você ler o texto a partir do link que já
> enviei, verá que o primeiro hospital, inclusive, não tinha recomendado o
> aborto. Ocorre que transferiram a menina às pressas para outro hospital -
> mais tolerante à prática -, valendo-se da ignorância da mãe.
>
> Quanto aos médicos, não estavam puramente interessados na vida da criança.
> São abortistas militantes - dão palestras a respeito, aliás. Isso não é dito
> em lugar nenhum. Um aluno deles - Vitor Costa, salvo engano - do décimo
> período (são professores universitários) pediu que comprovassem a
> inviabilidade da gestação e não obteve resposta, até o momento.
>
>
>
>
> 2009/3/11 Érika Maia <erikamaia@xxxxxxxxx>
>
> Sou totalmente contra o aborto. Não considero justificável ceifar a vida de
>> inocentes em prol da "liberdade da mulher" em relação a seu corpo, como
>> pregam os favoráveis ao assassinato de fetos. Se quer ter liberdade, que
>> tome as devidas cautelas. Até mesmo em caso de estupro, se a mãe tem
>> condições de ter o filho sem maiores complicações, acho que não se
>> justifica.
>> Contudo, mesmo sendo contra o aborto e mesmo sendo católica, não pude
>> deixar de achar um absurdo a decisão de excomungar as pessoas envolvidas
>> nesse caso. O autor do texto abaixo se esquece que uma CRIANÇA de 9 anos de
>> idade não tem estrutura física, quem dirá psicológica para ter filhos. Em
>> nome de preservar fetos, que muito provavelmente não chegariam nem a nascer,
>> que só trariam mais sofrimento à CRIANÇA-MÃE, condenam o aborto efetuado
>> pelos médicos. Parece que se esquecem de tudo o que a criança sofreu e de
>> todo o sofrimento que lhe seria imposto por uma gravidez de gêmeos no seu
>> frágil corpo de 9 anos de idade. Como ficaria o lado emocional dessa
>> menininha? Eles não se importam: só querem se apegar ao fato de que houve um
>> aborto. Paciência.
>> Penso que toda regra tem suas exceções e que os médicos e a família só
>> buscaram o desfecho menos traumático para esse caso.
>>
>>
>> 2009/3/11 Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
>>
>>  Para conhecer a história do ponto de vista de quem a acompanhou desde
>>> quando o caso se tornou público: *
>>> http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm
>>> *<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm>
>>>
>>> Segue também um comentário mostrando o outro lado da moeda, o qual
>>> reproduzo na íntegra, a seguir: *
>>> http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos
>>> *<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos>
>>>
>>> [ ]s,
>>>
>>> Roberto Jardim.
>>>
>>> =====================================
>>>
>>> Jornal Gazeta do Povo (Curitiba)
>>>
>>> Estupro, aborto e valores distorcidos
>>>
>>> Publicado em 11/03/2009 | Carlos Ramalhete
>>>
>>> Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de
>>> Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das
>>> duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que
>>> ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão
>>> automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem
>>> lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma
>>> vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso.
>>> A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que
>>> o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já
>>> chegaram a um final feliz.
>>>
>>> Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal
>>> – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de
>>> crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe,
>>> exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra
>>> o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto
>>> apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a
>>> matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido
>>> concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com
>>> pena de morte pelo crime do pai.
>>>
>>> A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra
>>> claramente o alcance
>>> – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma
>>> pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na
>>> equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de
>>> passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua
>>> morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do
>>> ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres
>>> em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do
>>> juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.
>>>
>>> Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si,
>>> para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria
>>> valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o
>>> bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas
>>> não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não
>>> merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.
>>>
>>> Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de
>>> lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro,
>>> provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que
>>> provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e
>>> escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a
>>> impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a
>>> sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve
>>> os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo
>>> tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a
>>> abortar.
>>>
>>> É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado
>>> preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de
>>> utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente
>>> seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.
>>>
>>> O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança
>>> indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de
>>> morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações
>>> pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida
>>> ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em
>>> sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco
>>> e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da
>>> vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que
>>> é feito com seu corpo.
>>>
>>> A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada
>>> sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela
>>> primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus
>>> próprios filhos
>>> – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da
>>> violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida
>>> humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda,
>>> ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz
>>> a campanha pró-aborto.
>>>
>>> Carlos Ramalhete é professor e filósofo.
>>>
>>>
>>>
>>> 2009/3/11 Raimundo Alves <rjalves07@xxxxxxxxx>
>>>
>>>> It's not mole, não...
>>>>
>>>>
>>>>  ------------------------------
>>>> *Enviada em:* terça-feira, 10 de março de 2009 19:15
>>>> *Assunto:* ENC: Torquemada pernambucano
>>>>
>>>>  Quem diria, o espírito do maior inquisidor da Igreja, Tomás de
>>>> Torquemada que no século XV purificou pelo menos 30.000 almas arrancando
>>>> a ferro e fogo o Demonio que as dominava, baixou no minusculo corpo do
>>>> arcebispo de Olinda-Recife. O liliputiano clérigo ao excomungar os médicos
>>>> e parentes da garota que aos NOVE anos foi estuprada e engravidada de
>>>> gêmeos, teve por recomendação MÉDICA e LEGAL que interromper a gravidez 
>>>> pois
>>>> seu pequeno corpo ainda incompleto, corria risco de morrer se a gestação
>>>> fosse levada adiante. Curiosamente, o estuprador não incorreu na 
>>>> excomunhão,
>>>> sendo poupado pelo nano-arcebispo...  Teria sido um caso de
>>>> corporativismo???   Seja como for, o poeta popular Miguezim de Princesa não
>>>> poupou a ação tinhosa do pequeno-polegar da igreja pernambucana...
>>>>
>>>>
>>>> *A EXCOMUNHÃO DA 
>>>> VÍTIMA<http://www.claudiohumberto.com.br/principal/index.php#this%23this>
>>>> *
>>>> *Miguezim de Princesa*
>>>>
>>>>
>>>> I*
>>>> **Peço à musa do improviso
>>>> Que me dê inspiração,
>>>> Ciência e sabedoria,
>>>> Inteligência e razão,
>>>> Peço que Deus que me proteja
>>>> Para falar de uma igreja
>>>> Que comete aberração.
>>>>
>>>> II
>>>> Pelas fogueiras que arderam
>>>> No tempo da Inquisição,
>>>> Pelas mulheres queimadas
>>>> Sem apelo ou compaixão,
>>>> Pensava que o Vaticano
>>>> Tinha mudado de plano,
>>>> Abolido a excomunhão.
>>>>
>>>> III
>>>> Mas o bispo Dom José,
>>>> Um homem conservador,
>>>> Tratou com impiedade
>>>> A vítima de um estuprador,
>>>> Massacrada e abusada,
>>>> Sofrida e violentada,
>>>> Sem futuro e sem amor.
>>>>
>>>> IV
>>>> Depois que houve o estupro,
>>>> A menina engravidou.
>>>> Ela só tem nove anos,
>>>> A Justiça autorizou
>>>> Que a criança abortasse
>>>> Antes que a vida brotasse
>>>> Um fruto do desamor.
>>>>
>>>> V
>>>> O aborto, já previsto
>>>> Na nossa legislação,
>>>> Teve o apoio declarado
>>>> Do ministro Temporão,
>>>> Que é médico bom e zeloso,
>>>> E mostrou ser corajoso
>>>> Ao enfrentar a questão.
>>>>
>>>> VI
>>>> Além de excomungar
>>>> O ministro Temporão,
>>>> Dom José excomungou
>>>> Da menina, sem razão,
>>>> A mãe, a vó e a tia
>>>> E se brincar puniria
>>>> Até a quarta geração.
>>>>
>>>> VII
>>>> É esquisito que a igreja,
>>>> Que tanto prega o perdão,
>>>> Resolva excomungar médicos
>>>> Que cumpriram sua missão
>>>> E num beco sem saída
>>>> Livraram uma pobre vida
>>>> Do fel da desilusão.
>>>>
>>>> VIII
>>>> Mas o mundo está virado
>>>> E cheio de desatinos:
>>>> Missa virou presepada,
>>>> Tem dança até do pepino,
>>>> Padre que usa bermuda,
>>>> Deixando mulher buchuda
>>>> E bolindo com os meninos.
>>>>
>>>> IX
>>>> Milhões morrendo de Aids:
>>>> É grande a devastação,
>>>> Mas a igreja acha bom
>>>> Furunfar sem proteção
>>>> E o padre prega na missa
>>>> Que camisinha na lingüiça
>>>> É uma coisa do Cão.
>>>>
>>>> X
>>>> E esta quem me contou
>>>> Foi Lima do Camarão:
>>>> Dom José excomungou
>>>> A equipe de plantão,
>>>> A família da menina
>>>> E o ministro Temporão,
>>>> Mas para o estuprador,
>>>> Que por certo perdoou,
>>>> O arcebispo reservou
>>>>  A vaga de sacristão.*
>>>>
>>>>
>>>
>>
>

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