[CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Wed, 11 Mar 2009 18:46:38 -0300

Tantos detalhes sobre o caso... Eis alguns deles:

Dê uma lida nos dois textos, Érika. Veja que a própria menina não foi
excomungada (aliás, não sei por que tanto estardalhaço da imprensa. Acaso os
médicos estão minimamente chocados por terem sido excomungados?). Outro
detalhe teológico: o Código de Direito Canônico é que preceitua a excomunhão
automática para os casos de aborto (diz-se "excomunhão latae sententiae"),
não o bispo. Este apenas lembrou que o caso prevê a excomunhão.

Ademais, no momento do aborto, a criança não corria risco. O risco seria
maior se se levasse a gravidez a termo, mas poderia ser tentada a cesariana
no sexto mês, por exemplo. Se você ler o texto a partir do link que já
enviei, verá que o primeiro hospital, inclusive, não tinha recomendado o
aborto. Ocorre que transferiram a menina às pressas para outro hospital -
mais tolerante à prática -, valendo-se da ignorância da mãe.

Quanto aos médicos, não estavam puramente interessados na vida da criança.
São abortistas militantes - dão palestras a respeito, aliás. Isso não é dito
em lugar nenhum. Um aluno deles - Vitor Costa, salvo engano - do décimo
período (são professores universitários) pediu que comprovassem a
inviabilidade da gestação e não obteve resposta, até o momento.




2009/3/11 Érika Maia <erikamaia@xxxxxxxxx>

> Sou totalmente contra o aborto. Não considero justificável ceifar a vida de
> inocentes em prol da "liberdade da mulher" em relação a seu corpo, como
> pregam os favoráveis ao assassinato de fetos. Se quer ter liberdade, que
> tome as devidas cautelas. Até mesmo em caso de estupro, se a mãe tem
> condições de ter o filho sem maiores complicações, acho que não se
> justifica.
> Contudo, mesmo sendo contra o aborto e mesmo sendo católica, não pude
> deixar de achar um absurdo a decisão de excomungar as pessoas envolvidas
> nesse caso. O autor do texto abaixo se esquece que uma CRIANÇA de 9 anos de
> idade não tem estrutura física, quem dirá psicológica para ter filhos. Em
> nome de preservar fetos, que muito provavelmente não chegariam nem a nascer,
> que só trariam mais sofrimento à CRIANÇA-MÃE, condenam o aborto efetuado
> pelos médicos. Parece que se esquecem de tudo o que a criança sofreu e de
> todo o sofrimento que lhe seria imposto por uma gravidez de gêmeos no seu
> frágil corpo de 9 anos de idade. Como ficaria o lado emocional dessa
> menininha? Eles não se importam: só querem se apegar ao fato de que houve um
> aborto. Paciência.
> Penso que toda regra tem suas exceções e que os médicos e a família só
> buscaram o desfecho menos traumático para esse caso.
>
>
> 2009/3/11 Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
>
>  Para conhecer a história do ponto de vista de quem a acompanhou desde
>> quando o caso se tornou público: *
>> http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm
>> *<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm>
>>
>> Segue também um comentário mostrando o outro lado da moeda, o qual
>> reproduzo na íntegra, a seguir: *
>> http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos
>> *<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos>
>>
>> [ ]s,
>>
>> Roberto Jardim.
>>
>> =====================================
>>
>> Jornal Gazeta do Povo (Curitiba)
>>
>> Estupro, aborto e valores distorcidos
>>
>> Publicado em 11/03/2009 | Carlos Ramalhete
>>
>> Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de
>> Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das
>> duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que
>> ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão
>> automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem
>> lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma
>> vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso.
>> A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que
>> o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já
>> chegaram a um final feliz.
>>
>> Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal
>> – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de
>> crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe,
>> exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra
>> o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto
>> apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a
>> matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido
>> concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com
>> pena de morte pelo crime do pai.
>>
>> A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra
>> claramente o alcance
>> – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma
>> pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na
>> equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de
>> passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua
>> morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do
>> ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres
>> em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do
>> juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.
>>
>> Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si,
>> para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria
>> valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o
>> bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas
>> não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não
>> merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.
>>
>> Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de
>> lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro,
>> provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que
>> provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e
>> escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a
>> impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a
>> sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve
>> os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo
>> tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a
>> abortar.
>>
>> É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado
>> preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de
>> utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente
>> seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.
>>
>> O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança
>> indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de
>> morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações
>> pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida
>> ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em
>> sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco
>> e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da
>> vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que
>> é feito com seu corpo.
>>
>> A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada
>> sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela
>> primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus
>> próprios filhos
>> – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da
>> violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida
>> humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda,
>> ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz
>> a campanha pró-aborto.
>>
>> Carlos Ramalhete é professor e filósofo.
>>
>>
>>
>> 2009/3/11 Raimundo Alves <rjalves07@xxxxxxxxx>
>>
>>> It's not mole, não...
>>>
>>>
>>>  ------------------------------
>>> *Enviada em:* terça-feira, 10 de março de 2009 19:15
>>> *Assunto:* ENC: Torquemada pernambucano
>>>
>>>  Quem diria, o espírito do maior inquisidor da Igreja, Tomás de
>>> Torquemada que no século XV purificou pelo menos 30.000 almas arrancando
>>> a ferro e fogo o Demonio que as dominava, baixou no minusculo corpo do
>>> arcebispo de Olinda-Recife. O liliputiano clérigo ao excomungar os médicos
>>> e parentes da garota que aos NOVE anos foi estuprada e engravidada de
>>> gêmeos, teve por recomendação MÉDICA e LEGAL que interromper a gravidez pois
>>> seu pequeno corpo ainda incompleto, corria risco de morrer se a gestação
>>> fosse levada adiante. Curiosamente, o estuprador não incorreu na excomunhão,
>>> sendo poupado pelo nano-arcebispo...  Teria sido um caso de
>>> corporativismo???   Seja como for, o poeta popular Miguezim de Princesa não
>>> poupou a ação tinhosa do pequeno-polegar da igreja pernambucana...
>>>
>>>
>>> *A EXCOMUNHÃO DA 
>>> VÍTIMA<http://www.claudiohumberto.com.br/principal/index.php#this%23this>
>>> *
>>> *Miguezim de Princesa*
>>>
>>>
>>> I*
>>> **Peço à musa do improviso
>>> Que me dê inspiração,
>>> Ciência e sabedoria,
>>> Inteligência e razão,
>>> Peço que Deus que me proteja
>>> Para falar de uma igreja
>>> Que comete aberração.
>>>
>>> II
>>> Pelas fogueiras que arderam
>>> No tempo da Inquisição,
>>> Pelas mulheres queimadas
>>> Sem apelo ou compaixão,
>>> Pensava que o Vaticano
>>> Tinha mudado de plano,
>>> Abolido a excomunhão.
>>>
>>> III
>>> Mas o bispo Dom José,
>>> Um homem conservador,
>>> Tratou com impiedade
>>> A vítima de um estuprador,
>>> Massacrada e abusada,
>>> Sofrida e violentada,
>>> Sem futuro e sem amor.
>>>
>>> IV
>>> Depois que houve o estupro,
>>> A menina engravidou.
>>> Ela só tem nove anos,
>>> A Justiça autorizou
>>> Que a criança abortasse
>>> Antes que a vida brotasse
>>> Um fruto do desamor.
>>>
>>> V
>>> O aborto, já previsto
>>> Na nossa legislação,
>>> Teve o apoio declarado
>>> Do ministro Temporão,
>>> Que é médico bom e zeloso,
>>> E mostrou ser corajoso
>>> Ao enfrentar a questão.
>>>
>>> VI
>>> Além de excomungar
>>> O ministro Temporão,
>>> Dom José excomungou
>>> Da menina, sem razão,
>>> A mãe, a vó e a tia
>>> E se brincar puniria
>>> Até a quarta geração.
>>>
>>> VII
>>> É esquisito que a igreja,
>>> Que tanto prega o perdão,
>>> Resolva excomungar médicos
>>> Que cumpriram sua missão
>>> E num beco sem saída
>>> Livraram uma pobre vida
>>> Do fel da desilusão.
>>>
>>> VIII
>>> Mas o mundo está virado
>>> E cheio de desatinos:
>>> Missa virou presepada,
>>> Tem dança até do pepino,
>>> Padre que usa bermuda,
>>> Deixando mulher buchuda
>>> E bolindo com os meninos.
>>>
>>> IX
>>> Milhões morrendo de Aids:
>>> É grande a devastação,
>>> Mas a igreja acha bom
>>> Furunfar sem proteção
>>> E o padre prega na missa
>>> Que camisinha na lingüiça
>>> É uma coisa do Cão.
>>>
>>> X
>>> E esta quem me contou
>>> Foi Lima do Camarão:
>>> Dom José excomungou
>>> A equipe de plantão,
>>> A família da menina
>>> E o ministro Temporão,
>>> Mas para o estuprador,
>>> Que por certo perdoou,
>>> O arcebispo reservou
>>>  A vaga de sacristão.*
>>>
>>>
>>
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