[CamaraDas] Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: Roberto Jardim Cavalcante <roberto.jardim@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Wed, 11 Mar 2009 16:06:10 -0300

Para conhecer a história do ponto de vista de quem a acompanhou desde quando
o caso se tornou público: *
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm
*<http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,leia-a-carta-do-padre-de-aladoinha-sobre-aborto-e-excomunhao,336023,0.htm>

Segue também um comentário mostrando o outro lado da moeda, o qual reproduzo
na íntegra, a seguir: *
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos
*<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=865795&tit=Estupro-aborto-e-valores-distorcidos>

[ ]s,

Roberto Jardim.

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Jornal Gazeta do Povo (Curitiba)

Estupro, aborto e valores distorcidos

Publicado em 11/03/2009 | Carlos Ramalhete

Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de
Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das
duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que
ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão
automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem
lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma
vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso.
A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que
o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já
chegaram a um final feliz.

Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal – o fato de o
Direito brasileiro não prever punição para o aborto de crianças geradas por
estupro ou em caso de risco de vida para a mãe, exatamente como não prevê
punição para o furto cometido por um filho contra o pai – grupos de pressão
interessados na legalização do aborto apressaram-se, contra a vontade da mãe
e de seus responsáveis legais, a matar o quanto antes as crianças que
cometeram o crime de terem sido concebidas no transcurso de um repulsivo
estupro. Os filhos são punidos com pena de morte pelo crime do pai.

A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra
claramente o alcance – em alguns setores bastante vocais da classe média
urbana – de uma pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não
entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado
de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua
morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do
ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres
em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do
juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.

Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si,
para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria
valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o
bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas
não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não
merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.

Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de lado.
Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro,
provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que
provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e
escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a
impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a
sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve
os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo
tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a
abortar.

É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado
preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de
utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente
seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.

O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança
indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de
morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações
pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida
ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em
sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco
e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da
vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que
é feito com seu corpo.

A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada sobre
seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela
primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus
próprios filhos – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do
lodo da violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida
humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda,
ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz
a campanha pró-aborto.

Carlos Ramalhete é professor e filósofo.



2009/3/11 Raimundo Alves <rjalves07@xxxxxxxxx>

> It's not mole, não...
>
>
>  ------------------------------
> *Enviada em:* terça-feira, 10 de março de 2009 19:15
> *Assunto:* ENC: Torquemada pernambucano
>
>  Quem diria, o espírito do maior inquisidor da Igreja, Tomás de Torquemada
> que no século XV purificou pelo menos 30.000 almas arrancando a ferro e fogo
> o Demonio que as dominava, baixou no minusculo corpo do arcebispo de
> Olinda-Recife. O liliputiano clérigo ao excomungar os médicos e parentes da
> garota que aos NOVE anos foi estuprada e engravidada de gêmeos, teve por
> recomendação MÉDICA e LEGAL que interromper a gravidez pois seu pequeno
> corpo ainda incompleto, corria risco de morrer se a gestação fosse levada
> adiante. Curiosamente, o estuprador não incorreu na excomunhão, sendo
> poupado pelo nano-arcebispo...  Teria sido um caso de corporativismo???
> Seja como for, o poeta popular Miguezim de Princesa não poupou a ação
> tinhosa do pequeno-polegar da igreja pernambucana...
>
>
> *A EXCOMUNHÃO DA 
> VÍTIMA<http://www.claudiohumberto.com.br/principal/index.php#this%23this>
> *
> *Miguezim de Princesa*
>
>
> I*
> **Peço à musa do improviso
> Que me dê inspiração,
> Ciência e sabedoria,
> Inteligência e razão,
> Peço que Deus que me proteja
> Para falar de uma igreja
> Que comete aberração.
>
> II
> Pelas fogueiras que arderam
> No tempo da Inquisição,
> Pelas mulheres queimadas
> Sem apelo ou compaixão,
> Pensava que o Vaticano
> Tinha mudado de plano,
> Abolido a excomunhão.
>
> III
> Mas o bispo Dom José,
> Um homem conservador,
> Tratou com impiedade
> A vítima de um estuprador,
> Massacrada e abusada,
> Sofrida e violentada,
> Sem futuro e sem amor.
>
> IV
> Depois que houve o estupro,
> A menina engravidou.
> Ela só tem nove anos,
> A Justiça autorizou
> Que a criança abortasse
> Antes que a vida brotasse
> Um fruto do desamor.
>
> V
> O aborto, já previsto
> Na nossa legislação,
> Teve o apoio declarado
> Do ministro Temporão,
> Que é médico bom e zeloso,
> E mostrou ser corajoso
> Ao enfrentar a questão.
>
> VI
> Além de excomungar
> O ministro Temporão,
> Dom José excomungou
> Da menina, sem razão,
> A mãe, a vó e a tia
> E se brincar puniria
> Até a quarta geração.
>
> VII
> É esquisito que a igreja,
> Que tanto prega o perdão,
> Resolva excomungar médicos
> Que cumpriram sua missão
> E num beco sem saída
> Livraram uma pobre vida
> Do fel da desilusão.
>
> VIII
> Mas o mundo está virado
> E cheio de desatinos:
> Missa virou presepada,
> Tem dança até do pepino,
> Padre que usa bermuda,
> Deixando mulher buchuda
> E bolindo com os meninos.
>
> IX
> Milhões morrendo de Aids:
> É grande a devastação,
> Mas a igreja acha bom
> Furunfar sem proteção
> E o padre prega na missa
> Que camisinha na lingüiça
> É uma coisa do Cão.
>
> X
> E esta quem me contou
> Foi Lima do Camarão:
> Dom José excomungou
> A equipe de plantão,
> A família da menina
> E o ministro Temporão,
> Mas para o estuprador,
> Que por certo perdoou,
> O arcebispo reservou
>  A vaga de sacristão.*
>
>

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