[CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: João Marcos <jmcantarino@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Thu, 12 Mar 2009 18:14:03 -0300

Esse caso é particularmente espinhoso porque envolve 3 tabus sociais:
estupro, pedofilia e aborto. Sobre a torpeza dos dois primeiros há um quase
consenso - se é que isso existe - na civilização ocidental, embora qualquer
pesquisa na Internet indique que são duas das mais constantes fantasias
sexuais humanas, inclusive das mulheres (sobre esse assunto especificamente,
recomendo, principalmente para as mulheres, a leitura de My Secret
Garden<http://www.amazon.com/My-Secret-Garden-Nancy-Friday/dp/1416567011/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1236891291&sr=1-1>,
da americana Nancy Friday, sem tradução para o português).
Sobre o aborto, porém, a discussão continua, e creio que ainda por muito
tempo, acalorada, e sim, Juliana, muitas vezes entendiante. Sou a favor do
direito ao aborto, mas não pelas razões que normalmente se costumam arrolar,
como o direito da mulher sobre o próprio corpo, etc. e tal, mas por que sou
antes de tudo a favor da liberdade de ação. Quando se proíbe alguma coisa, a
maioria das pessoas para (do verbo parar) de pensar sobre ela, pois só resta
obedecer ou desobedecer, nada mais. Mas quando um gesto lhe é facultativo,
pronto, as pessoas, quase todas, são obrigadas a pensar sobre esse gesto. É
absurdo achar que, concedido o direito ao aborto, as mulheres vão sair por
aí, abortando como loucas. Seria capaz de apostar que, ao contrário, o
número de abortos diminuiria.
Para terminar. Roberto, acho injusto com as mulheres igualar o aborto ao
homicídio. São coisas completamente diferentes, sob qualquer ponto de vista,
inclusive sob o que menos me interessa, o jurídico. Homicídios normalmente
são motivados por sentimentos como raiva e inveja. Não creio que, além do
filho indesejado, também essas emoções estejam dentro das mulheres quando
decidem abortá-lo. Pelo menos não da maioria. Mas é só um chute.
João Marcos.


2009/3/12 jair francelino ferreira <jairfrancelino@xxxxxxxxxxx>

> Não vou me estender, Roberto. Nosso pensamento não é tão divergente nesse
> assunto. O ponto essencial da nossa divergência é o fato de você igualar
> totalmente a vida do feto à vida de um ser já nascido, e eu não. Embora seja
> firmemente contra o aborto, acho razoavel que entre a vida  da mãe e a vida
> dos fetos, se opte pela da mãe.  Ainda mais nesse caso em que, ao tentar
> salvar a vida dos futuros bebês, poder-se-ia estar  condenando os três à
> morte. E, sim, pelo menos quanto a mim, se a família da vítima não tivesse
> sido incluída na excomunhão , não haveria indignação.
>
> Quanto à crueldade dos médicos (e há também as agentes sociais), ela pode
> ser relativizada, se considerarmos que eles também fazem a diferença entre a
> vida da menina e a dos fetos (e, portanto não estariam quebrando nenhum
> juramento). Mesmo que equivocados (e nesse caso, acho que não estão), podem
> estar convictos de que agem movidos por ética profissional e compaixão.
>
> Por último, não vejo como um caso específico como esse, e respaldado pela
> legislação já vigente, pode levar à legalização (ou descriminalização) geral
> da prática do aborto.
>
> Jair
>
> > Date: Thu, 12 Mar 2009 00:51:17 -0300
> > Subject: [CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd:
> Torquemada pernambucano)
> > From: roberto.jardim@xxxxxxxxx
> > To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
> >
>  > ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::
> >
> > Divido seu texto e comento cada trecho.
> >
> >
> > Em 11/03/09, jair francelino ferreira<jairfrancelino@xxxxxxxxxxx>
> escreveu:
> > >> Eu tenho opinião idêntica à da Érica sobre aborto, inclusive em casos
> de
> > >> estupro.
> >
> > Somos três, então. Até porque a morte de inocentes não fará justiça à
> > pobre criança.
> >
> >
> > >> E, da mesma forma, nesse caso acho que os fatos expostos nos textos
> > >> linkados (os fatos, não as crenças) a meu ver apenas evidenciam a
> crueldade
> > >> do bispo ao citar publicamente a mãe da menina como uma excomungada.
> >
> > Não deixa de ser emblemático o excesso de rigor dos comentaristas em
> > geral com relação ao bispo e o silêncio com relação aos médicos.
> > Nenhuma crueldade destes? Abortistas militantes que são, não passam de
> > exemplares profissionais?
> >
> > Veja que somos dois travando um diálogo entre contrários ao aborto. Se
> > o foco de nossa ação for a atitude do bispo, não o comportamento
> > daqueles que quebram o juramento de Hipócrates (cadê a justa
> > indignação?), vejo o aborto sendo rapidamente legalizado em nosso
> > país. Por falta de oposição.
> >
> > Quanto ao bispo, falo mais abaixo.
> >
> >
> > >> É bem verdade que essa é a doutrina da Igreja e que os médicos estão
> se
> > >> lixando pra isso
> >
> > Certamente não estão. Daí estranhar o estardalhaço. Mais ou menos como
> > escreveu o Cony, que concorda com você: "Lutero também foi
> > excomungado. E daí?"
> >
> > Excomunhão indica uma pena canônica. Não tem nada a ver com o direito
> > penal secular. Ela indica exclusão temporária (até que se arrependa e
> > se retrate) dos bens espirituais da Igreja (sacramentos, p. ex.). A
> > automática deriva de casos específicos listados no Código de Direito
> > Canônico (ex.: cisma, profanação da Eucaristia, consagração de bispos
> > sem autorização papal - caso dos 4 bispos cuja excomunhão foi revogada
> > há pouco -, aborto e alguns outros).
> >
> > Qual a importância que os médicos dão a isso?
> >
> >
> > >>- embora me pareça pouco provável que todos os envolvidos no episódio
> > >> estivessem simplesmente querendo defender a causa abortista -,
> >
> > Divirjo, mas até aí, nada a discutir. Entram os achismos, tanto meu
> > quanto seu. Concordo apenas com a palavra "todos".
> >
> >
> > >> mas os bispos e padres não saem por aí o tempo todo listando todos os
> que a
> > >> Igreja considera excomungada e esse bispo deve saber o peso que
> > >> uma "sentença" dessas tem numa comunidade do interior do Nordeste.
> >
> > Não o tempo todo, mas quando a imprensa provoca o assunto, quase
> > sempre. Veja que quando há um caso desses (ou qualquer assunto
> > referente a questões morais), geralmente os repórteres procuram o
> > comentário de uma autoridade eclesiástica. Convenhamos que ele não
> > pode se omitir.
> >
> >
> > >> Além disso, se a mãe foi enganada pelos "abortistas militantes", não
> seria mais
> > >> uma razão pra ser tolerante com ela? Na minha opinião, o bispo fez
> política com
> > >> o caso, com a tragédia alheia, justamente o que os textos citados
> acusam
> > >> os "abortistas" de terem feito.
> > >> Jair
> >
> > Sim, poderia teria explicado melhor como funciona e o que significa a
> > excomunhão latae sententiae - inclusive dizendo que a ignorância (ou
> > seja, a falta de conhecimento) atenua sobremaneira a culpabilidade.
> > Dom Rossi Keller, entre outros bispos, apontam ser possível que a mãe
> > quase certamente não tenha incorrido em tal pena, já que pressionada
> > psicologicamente a autorizar tal ato. O próprio Dom José Cardoso
> > Sobrinho acenou com conversão e perdão.
> >
> > Mas vamos à essência: ele acertou ao denunciar a violação às vidas
> > indefesas? Ou não passa de um cruel eclesiástico?
> >
> > Mais adiante. Se ele tivesse falado de excomunhão automática a todos
> > os citados por ele, **mas tivesse excluído o nome da mãe da criança**,
> > estaríamos aqui falando disso? Veja que a resposta a essa pergunta
> > denota a alma da indignação e deste diálogo. Afinal, a admoestação do
> > bispo é mais grave que a interrupção daquelas vidas?
> >
> > Para concluir, sim, creio os médicos devam ser identificados como
> > abortistas, sem qualquer eufemismo. Sem aspas, portanto.
> >
> > [ ]s,
> > Roberto Jardim.
> >
> > ...............
> > "A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda
> seremos o maior povo ex-católico do mundo.".
> >
> > Nelson Rodrigues
> > ...............
> >
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