[CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: Torquemada pernambucano)

  • From: jair francelino ferreira <jairfrancelino@xxxxxxxxxxx>
  • To: analistas câmara <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Fri, 13 Mar 2009 10:21:18 -0300

A Igreja já se deu conta do tamanho da pisada na bola nesse caso. 
 
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,excomunhoes-ligadas-ao-aborto-de-pe-foram-excepcionais,337932,0.htm

 
O problema é que é difícil consertar agora, sem ficar desacreditada. Já sofreu 
rum golpe forte, em nível internacional, com aquele caso dos bispos que foram 
readmitidos.

Date: Fri, 13 Mar 2009 10:02:43 -0300
Subject: [CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: 
Torquemada pernambucano)
From: patriciakellyb@xxxxxxxxx
To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
CC: hercules.benicio@xxxxxxxxx


Obrigada, Roberto, diante da corajosa atitude de defender o lado em maior 
desvantagem nesse debate, ofereceu-nos dados e reflexões interessantes acerca 
do fato.
 
Também como o Jair, não tenho posição muito divergente da sua sobre o assunto, 
e concordo plenamente com o ponto destacado por ele no tocante apenas a sua, a 
meu ver, equivocada posição em entender a vida do feto igual, ou até superior, 
àquela de um ser já nascido. 
Posição essa que fica ainda mais problemática diante do quadro envolvendo, como 
tão bem destacou o João Marcos, pelo menos 3 tabus sociais (estupro, pedofilia 
e aborto), onde a vítima, além de ser juridicamente incapaz, possui pais 
altamente frágeis e sugestionáveis, frente à realidade cultural e financeira 
dos mesmos. 
 
Ou seja, o debate ético de até aonde deve ir o dever do Estado de proteger a 
vida,  por meio da lei, contra o controverso, porém atualmente supervalorizado, 
direito ao livre-arbítrio do indivíduo mostra-se, neste caso, muito mais 
instigante. Creio até, desculpe-me a Juliana, que neste caso, não tenho como 
considerar a discussão entediante. Situação que me leva a arriscar e dividir 
estas reflexões com os colegas.
 
Em primeiro lugar, falamos de Defesa à Vida, a questão é "Que vida?". Quando a 
do feto coloca em risco a da mãe, qual vale mais? Deveríamos, legalmente, dar a 
mãe, ou ao seu responsável legal, o direito de decidir quanto a isso nesse 
caso? Creio que sim, soa justo. E, no caso em questão, temos uma criança de 9 
anos e, do outro lado, os fetos, dois seres ainda "por vir", em formação 
também, mas intrauterina, num útero frágil e sujeito a ruptura de um ser de 
apenas 9 anos, logo, também em formação, mas extrauterina, tanto física como 
psicológica. O que vale mais? O que deve ser defendido pela lei?
 
Além disso, "O que é vida?", objetivamente falando. Se, para sermos objetivos, 
vincularmos a vida ao funciomento cerebral, tal qual é o critério jurídico e 
médico para aferição de morte. A partir de que momento o embrião, ou 
"aglomerado de células" como preferem alguns, teria um cérebro ou sistema 
nervoso em pleno funcionamento? Após as primeiras divisões celulares que 
ocorrem nos primeiros três meses? Bom, não sei, não sou da área médica, mas 
creio que talvez o caminho para melhor nortear a permissão para se abortar 
devesse levar em conta esse ponto.
 
Outro ponto, para o qual chamo a atenção, é o da liberdade de expressão, de 
falar, de convencer, dos agentes sociais envolvidos no caso. É da natureza 
humana a competitividade, mas esclarecer os pais da criança, de forma mais 
isenta possível acerca dos verdadeiros riscos e, de outro lado, acerca de 
implicações espirituais em que alguns crêem, faz parte do jogo e do respeito a 
essa liberdade. 
 
Concordo também com o Jair, quando disse que a igreja errou ao excomungar os 
pais, já que tinha ciência da forma como foram convencidos. Com esse ato, 
cometeram uma tremenda falha de estratégia política, chamaram para si o ódio 
não apenas dos que defendem a liberação do aborto, mas também dos que são 
contra isso, mas têm olhos para defender essa opção nesse caso tão complexo. 
Falta de habilidade política, no mínimo, eu diria.
 
E, jocosamente, puxando a sardinha para o nosso lado, creio que uma boa 
assessoria de estragégia política ajudaria o bispo a tomar uma decisão melhor, 
bastava mesmo excluir os pais da tal excomunhão e não teriam dado tanta munição 
à turma pró-liberação do aborto.
 
No mais, viva o bom debate!
E, parafraseando o Comandante Niquele: 
Saludos!
 
Patricia Kelly.
 
 


 
2009/3/12 João Marcos <jmcantarino@xxxxxxxxx>


Esse caso é particularmente espinhoso porque envolve 3 tabus sociais: estupro, 
pedofilia e aborto. Sobre a torpeza dos dois primeiros há um quase consenso - 
se é que isso existe - na civilização ocidental, embora qualquer pesquisa na 
Internet indique que são duas das mais constantes fantasias sexuais humanas, 
inclusive das mulheres (sobre esse assunto especificamente, recomendo, 
principalmente para as mulheres, a leitura de My Secret Garden, da americana 
Nancy Friday, sem tradução para o português). 
Sobre o aborto, porém, a discussão continua, e creio que ainda por muito tempo, 
acalorada, e sim, Juliana, muitas vezes entendiante. Sou a favor do direito ao 
aborto, mas não pelas razões que normalmente se costumam arrolar, como o 
direito da mulher sobre o próprio corpo, etc. e tal, mas por que sou antes de 
tudo a favor da liberdade de ação. Quando se proíbe alguma coisa, a maioria das 
pessoas para (do verbo parar) de pensar sobre ela, pois só resta obedecer ou 
desobedecer, nada mais. Mas quando um gesto lhe é facultativo, pronto, as 
pessoas, quase todas, são obrigadas a pensar sobre esse gesto. É absurdo achar 
que, concedido o direito ao aborto, as mulheres vão sair por aí, abortando como 
loucas. Seria capaz de apostar que, ao contrário, o número de abortos 
diminuiria.
Para terminar. Roberto, acho injusto com as mulheres igualar o aborto ao 
homicídio. São coisas completamente diferentes, sob qualquer ponto de vista, 
inclusive sob o que menos me interessa, o jurídico. Homicídios normalmente são 
motivados por sentimentos como raiva e inveja. Não creio que, além do filho 
indesejado, também essas emoções estejam dentro das mulheres quando decidem 
abortá-lo. Pelo menos não da maioria. Mas é só um chute.
João Marcos.
 
 
2009/3/12 jair francelino ferreira <jairfrancelino@xxxxxxxxxxx> 





Não vou me estender, Roberto. Nosso pensamento não é tão divergente nesse 
assunto. O ponto essencial da nossa divergência é o fato de você igualar 
totalmente a vida do feto à vida de um ser já nascido, e eu não. Embora seja 
firmemente contra o aborto, acho razoavel que entre a vida  da mãe e a vida  
dos fetos, se opte pela da mãe.  Ainda mais nesse caso em que, ao tentar salvar 
a vida dos futuros bebês, poder-se-ia estar  condenando os três à morte. E, 
sim, pelo menos quanto a mim, se a família da vítima não tivesse sido incluída 
na excomunhão , não haveria indignação.
 
Quanto à crueldade dos médicos (e há também as agentes sociais), ela pode ser 
relativizada, se considerarmos que eles também fazem a diferença entre a vida 
da menina e a dos fetos (e, portanto não estariam quebrando nenhum juramento). 
Mesmo que equivocados (e nesse caso, acho que não estão), podem estar convictos 
de que agem movidos por ética profissional e compaixão.
 
Por último, não vejo como um caso específico como esse, e respaldado pela 
legislação já vigente, pode levar à legalização (ou descriminalização) geral da 
prática do aborto.
 
Jair
 
> Date: Thu, 12 Mar 2009 00:51:17 -0300 

> Subject: [CamaraDas] Re: Estupro, aborto e valores distorcidos (era: Fwd: 
> Torquemada pernambucano)
> From: roberto.jardim@xxxxxxxxx
> To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
> 



> ::::..CamaraDas - Analistas Legislativos da CD (TL/TMP)..::::
> 
> Divido seu texto e comento cada trecho.
> 
> 
> Em 11/03/09, jair francelino ferreira<jairfrancelino@xxxxxxxxxxx> escreveu:
> >> Eu tenho opinião idêntica à da Érica sobre aborto, inclusive em casos de
> >> estupro.
> 
> Somos três, então. Até porque a morte de inocentes não fará justiça à
> pobre criança.
> 
> 
> >> E, da mesma forma, nesse caso acho que os fatos expostos nos textos
> >> linkados (os fatos, não as crenças) a meu ver apenas evidenciam a crueldade
> >> do bispo ao citar publicamente a mãe da menina como uma excomungada.
> 
> Não deixa de ser emblemático o excesso de rigor dos comentaristas em
> geral com relação ao bispo e o silêncio com relação aos médicos.
> Nenhuma crueldade destes? Abortistas militantes que são, não passam de
> exemplares profissionais?
> 
> Veja que somos dois travando um diálogo entre contrários ao aborto. Se
> o foco de nossa ação for a atitude do bispo, não o comportamento
> daqueles que quebram o juramento de Hipócrates (cadê a justa
> indignação?), vejo o aborto sendo rapidamente legalizado em nosso
> país. Por falta de oposição.
> 
> Quanto ao bispo, falo mais abaixo.
> 
> 
> >> É bem verdade que essa é a doutrina da Igreja e que os médicos estão se
> >> lixando pra isso
> 
> Certamente não estão. Daí estranhar o estardalhaço. Mais ou menos como
> escreveu o Cony, que concorda com você: "Lutero também foi
> excomungado. E daí?"
> 
> Excomunhão indica uma pena canônica. Não tem nada a ver com o direito
> penal secular. Ela indica exclusão temporária (até que se arrependa e
> se retrate) dos bens espirituais da Igreja (sacramentos, p. ex.). A
> automática deriva de casos específicos listados no Código de Direito
> Canônico (ex.: cisma, profanação da Eucaristia, consagração de bispos
> sem autorização papal - caso dos 4 bispos cuja excomunhão foi revogada
> há pouco -, aborto e alguns outros).
> 
> Qual a importância que os médicos dão a isso?
> 
> 
> >>- embora me pareça pouco provável que todos os envolvidos no episódio
> >> estivessem simplesmente querendo defender a causa abortista -,
> 
> Divirjo, mas até aí, nada a discutir. Entram os achismos, tanto meu
> quanto seu. Concordo apenas com a palavra "todos".
> 
> 
> >> mas os bispos e padres não saem por aí o tempo todo listando todos os que a
> >> Igreja considera excomungada e esse bispo deve saber o peso que
> >> uma "sentença" dessas tem numa comunidade do interior do Nordeste.
> 
> Não o tempo todo, mas quando a imprensa provoca o assunto, quase
> sempre. Veja que quando há um caso desses (ou qualquer assunto
> referente a questões morais), geralmente os repórteres procuram o
> comentário de uma autoridade eclesiástica. Convenhamos que ele não
> pode se omitir.
> 
> 
> >> Além disso, se a mãe foi enganada pelos "abortistas militantes", não seria 
> >> mais
> >> uma razão pra ser tolerante com ela? Na minha opinião, o bispo fez 
> >> política com
> >> o caso, com a tragédia alheia, justamente o que os textos citados acusam
> >> os "abortistas" de terem feito.
> >> Jair
> 
> Sim, poderia teria explicado melhor como funciona e o que significa a
> excomunhão latae sententiae - inclusive dizendo que a ignorância (ou
> seja, a falta de conhecimento) atenua sobremaneira a culpabilidade.
> Dom Rossi Keller, entre outros bispos, apontam ser possível que a mãe
> quase certamente não tenha incorrido em tal pena, já que pressionada
> psicologicamente a autorizar tal ato. O próprio Dom José Cardoso
> Sobrinho acenou com conversão e perdão.
> 
> Mas vamos à essência: ele acertou ao denunciar a violação às vidas
> indefesas? Ou não passa de um cruel eclesiástico?
> 
> Mais adiante. Se ele tivesse falado de excomunhão automática a todos
> os citados por ele, **mas tivesse excluído o nome da mãe da criança**,
> estaríamos aqui falando disso? Veja que a resposta a essa pergunta
> denota a alma da indignação e deste diálogo. Afinal, a admoestação do
> bispo é mais grave que a interrupção daquelas vidas?
> 
> Para concluir, sim, creio os médicos devam ser identificados como
> abortistas, sem qualquer eufemismo. Sem aspas, portanto.
> 
> [ ]s,
> Roberto Jardim.
> 
> ...............
> "A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: — ainda seremos o 
> maior povo ex-católico do mundo.".
> 
> Nelson Rodrigues
> ...............
> 
> 
> - Para suspender temporariamente o recebimento: enviar mensagem para 
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