[Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....

  • From: Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Fri, 11 Sep 2009 11:06:00 -0300

O que mais me deixa intrigada nessas discussões sobre casamento é o fato das
pessoas não analisarem a outra opção. Sim, porque casamento tem um monte de
defeito, mas ser solteiro tem tantos outros e até mais. Ou seja, os probleas
não estão ligados à nossa situação conjugal, mas sim ao fato de sermos
adultos e temos todas as questões não resolvidas para enfrentar. E isso às
vêzes é muito pesado, então o casamento leva a vantagem de nos permitir
dividir o peso com outra pessoa: cúmplice, companheiro, culpado, a escolha é
sua!
Outro ponto importante: o casamento é uma das três datas que são celebradas
em TODAS as culturas, de qualquer época - nascimento, casamento e morte.
Então deve ser intrínseco à natureza humana.
Eu mesma sou uma "convertida", sempre pensei em nunca me casar, pois via os
exemplos dos mais velhos. E nem sei bem em qual desvio do caminho me vi
casada, e lá se vão 26 anos. E pensando bem, acho que saí lucrando. Mas não
foi fácil, muitos acertos tiveram que ser feitos, muita "reprogramação", mas
sempre achei que se a pessoa valia a pena, as tentativas também deveriam
valer. E para os iniciantes, uma boa notícia: vai  ficando mais fácil e
melhor, com o passar do tempo (se vocês tiverem o propósito de continuarem
e serem felizas - veja bem, isso É UMA OPÇÂO!).
Boa sorte para os que vão continuar a viagem,
Elaine



2009/9/11 Paula Santos <paulabozzer@xxxxxxxxx>

> Luís,
> Acho que se só parássemos de preparar as crianças para serem completamente
> opostos já seria o suficiente. Não é uma contradição treinarmos a infância
> inteira para agirmos de formas tão diferentes e depois sermos "obrigados" a
> conviver com isso? É claro que as mulheres vão reclamar do futebol, assim
> como os homens vão reclamar das compras. Infelizmente somos criados para
> sermos opostos, mas não complementares.
> []s,
> Paula
>
>  2009/9/10 Luís Nobre <luis.cnobre@xxxxxxxxx>
>
>> Concordo parcialmente. Tudo muda, as pessoas mudam. O homem muda, a mulher
>> muda, o meio que os cerca muda, para um ou outro ou para ambos. Ganha-se
>> experiência, você adquire outros prismas, joga outros fora. Prá mim esse
>> texto me lembrou aquela piada que diz que casamento é como o submarino: pode
>> até flutuar, mas foi feito mesmo para afundar. Uma pergunta: supondo que
>> homens e mulheres fossem melhor instruídos/preparados para uma vida a dois
>> (isso incluiria terapia já na adolescência, leitura de livros e artigos
>> tratando do assunto, aprender com os erros dos já casados, etc), o número de
>> laços matrimoniais aumentaria ou diminuiria? E o número de divórcios
>> daqueles que mesmo sabendo dessa programação (porque é isso que o artigo
>> abaixo nos diz, ou seja, somos programados a procurar alguém para nos
>> livrarmos da culpa do fracasso) resolveram contrair (isso é uma doença?)
>> matrimônio?
>>
>> abç
>> Luís
>>
>>
>>
>> 2009/9/10 Patrícia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx>
>>
>>> Casamentos possíveis
>>>
>>>
>>> Contardo Calligaris
>>>
>>> Em geral, a gente casa com a pessoa certa: com quem podemos culpar por
>>> nossos fracassos
>>>
>>>
>>> UMA DAS boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados, podemos
>>> culpar o casal por boa parte de nossas covardias e impotências.
>>> O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento
>>> por ele ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em seu
>>> peito. A decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em
>>> acusação: "Você está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem
>>> de querer".
>>> Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente
>>> masculinas.
>>> Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios
>>> de grandeza -como se algum destino extraordinário e inalcançável já tivesse
>>> sido sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante de
>>> tamanha expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento.
>>> As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar graça
>>> nas serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam
>>> facilmente, para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos que
>>> eles não têm a ousadia de realizar.
>>> Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido,
>>> os filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida (eventualmente,
>>> profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo,
>>> para muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e irresistível,
>>> do qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e casamento.
>>> Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de
>>> cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary se
>>> queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair
>>> pelos bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes.
>>> Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é que
>>> os sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor, pois
>>> eles derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus
>>> filhos, e, claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um
>>> dom-juan, mas raramente esperará ser substituída por outra mulher no coração
>>> do filho.
>>> Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de
>>> divórcio. Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da
>>> acusação ("É por sua causa que deixei de realizar meus sonhos"), ouve-se:
>>> "Ainda bem que você está aqui, do meu lado, fornecendo-me assim uma desculpa
>>> -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que eu mesmo não
>>> paro de trair meus próprios sonhos".
>>> Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa "certa": a que podemos
>>> culpar por nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para
>>> separar-se. Ao contrário, seria uma boa razão para ficar juntos.
>>> Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido
>>> frustrados "por causa do outro", mas pelas "cobranças", que, elas sim, podem
>>> se revelar insuportáveis.
>>> Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa
>>> dela que eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais
>>> tentar minha sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até
>>> aqui, tudo bem. Como compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo as
>>> tardes de domingo afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time
>>> marca um gol, mas eis que, no meio do jogo, minha mulher me pede para
>>> brincar com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário para
>>> o café - logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou
>>> negociando a paz entre os senhores da guerra da Somália.
>>> Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa
>>> constatação do fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me
>>> consolo. Talvez, aliás, ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na
>>> vida concreta, nos afetos cotidianos. Mas não é o que acontece: o que ouço é
>>> mais uma voz que confirma minha insuficiência.
>>> À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de quem
>>> foi (ou é) "causa" de minha desistência e razão de meu "sacrifício": "Olhe
>>> só, mesmo assim, ela não está satisfeita comigo." Em suma, não presto,
>>> nunca, para mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói nem
>>> para a esposa para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta.
>>> O ideal seria aceitar que nosso par nos acuse de seus fracassos e, além
>>> disso, não lhe pedir nada. Difícil.
>>>
>>>
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