O que mais me deixa intrigada nessas discussões sobre casamento é o fato das pessoas não analisarem a outra opção. Sim, porque casamento tem um monte de defeito, mas ser solteiro tem tantos outros e até mais. Ou seja, os probleas não estão ligados à nossa situação conjugal, mas sim ao fato de sermos adultos e temos todas as questões não resolvidas para enfrentar. E isso às vêzes é muito pesado, então o casamento leva a vantagem de nos permitir dividir o peso com outra pessoa: cúmplice, companheiro, culpado, a escolha é sua! Outro ponto importante: o casamento é uma das três datas que são celebradas em TODAS as culturas, de qualquer época - nascimento, casamento e morte. Então deve ser intrínseco à natureza humana. Eu mesma sou uma "convertida", sempre pensei em nunca me casar, pois via os exemplos dos mais velhos. E nem sei bem em qual desvio do caminho me vi casada, e lá se vão 26 anos. E pensando bem, acho que saí lucrando. Mas não foi fácil, muitos acertos tiveram que ser feitos, muita "reprogramação", mas sempre achei que se a pessoa valia a pena, as tentativas também deveriam valer. E para os iniciantes, uma boa notícia: vai ficando mais fácil e melhor, com o passar do tempo (se vocês tiverem o propósito de continuarem e serem felizas - veja bem, isso É UMA OPÇÂO!). Boa sorte para os que vão continuar a viagem, Elaine 2009/9/11 Paula Santos <paulabozzer@xxxxxxxxx> > Luís, > Acho que se só parássemos de preparar as crianças para serem completamente > opostos já seria o suficiente. Não é uma contradição treinarmos a infância > inteira para agirmos de formas tão diferentes e depois sermos "obrigados" a > conviver com isso? É claro que as mulheres vão reclamar do futebol, assim > como os homens vão reclamar das compras. Infelizmente somos criados para > sermos opostos, mas não complementares. > []s, > Paula > > 2009/9/10 Luís Nobre <luis.cnobre@xxxxxxxxx> > >> Concordo parcialmente. Tudo muda, as pessoas mudam. O homem muda, a mulher >> muda, o meio que os cerca muda, para um ou outro ou para ambos. Ganha-se >> experiência, você adquire outros prismas, joga outros fora. Prá mim esse >> texto me lembrou aquela piada que diz que casamento é como o submarino: pode >> até flutuar, mas foi feito mesmo para afundar. Uma pergunta: supondo que >> homens e mulheres fossem melhor instruídos/preparados para uma vida a dois >> (isso incluiria terapia já na adolescência, leitura de livros e artigos >> tratando do assunto, aprender com os erros dos já casados, etc), o número de >> laços matrimoniais aumentaria ou diminuiria? E o número de divórcios >> daqueles que mesmo sabendo dessa programação (porque é isso que o artigo >> abaixo nos diz, ou seja, somos programados a procurar alguém para nos >> livrarmos da culpa do fracasso) resolveram contrair (isso é uma doença?) >> matrimônio? >> >> abç >> Luís >> >> >> >> 2009/9/10 Patrícia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx> >> >>> Casamentos possíveis >>> >>> >>> Contardo Calligaris >>> >>> Em geral, a gente casa com a pessoa certa: com quem podemos culpar por >>> nossos fracassos >>> >>> >>> UMA DAS boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados, podemos >>> culpar o casal por boa parte de nossas covardias e impotências. >>> O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento >>> por ele ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em seu >>> peito. A decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em >>> acusação: "Você está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem >>> de querer". >>> Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente >>> masculinas. >>> Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios >>> de grandeza -como se algum destino extraordinário e inalcançável já tivesse >>> sido sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante de >>> tamanha expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento. >>> As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar graça >>> nas serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam >>> facilmente, para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos que >>> eles não têm a ousadia de realizar. >>> Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido, >>> os filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida (eventualmente, >>> profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo, >>> para muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e irresistível, >>> do qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e casamento. >>> Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de >>> cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary se >>> queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair >>> pelos bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes. >>> Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é que >>> os sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor, pois >>> eles derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus >>> filhos, e, claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um >>> dom-juan, mas raramente esperará ser substituída por outra mulher no coração >>> do filho. >>> Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de >>> divórcio. Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da >>> acusação ("É por sua causa que deixei de realizar meus sonhos"), ouve-se: >>> "Ainda bem que você está aqui, do meu lado, fornecendo-me assim uma desculpa >>> -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que eu mesmo não >>> paro de trair meus próprios sonhos". >>> Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa "certa": a que podemos >>> culpar por nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para >>> separar-se. Ao contrário, seria uma boa razão para ficar juntos. >>> Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido >>> frustrados "por causa do outro", mas pelas "cobranças", que, elas sim, podem >>> se revelar insuportáveis. >>> Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa >>> dela que eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais >>> tentar minha sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até >>> aqui, tudo bem. Como compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo as >>> tardes de domingo afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time >>> marca um gol, mas eis que, no meio do jogo, minha mulher me pede para >>> brincar com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário para >>> o café - logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou >>> negociando a paz entre os senhores da guerra da Somália. >>> Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa >>> constatação do fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me >>> consolo. Talvez, aliás, ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na >>> vida concreta, nos afetos cotidianos. Mas não é o que acontece: o que ouço é >>> mais uma voz que confirma minha insuficiência. >>> À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de quem >>> foi (ou é) "causa" de minha desistência e razão de meu "sacrifício": "Olhe >>> só, mesmo assim, ela não está satisfeita comigo." Em suma, não presto, >>> nunca, para mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói nem >>> para a esposa para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta. >>> O ideal seria aceitar que nosso par nos acuse de seus fracassos e, além >>> disso, não lhe pedir nada. Difícil. >>> >>> >> >