[Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....

  • From: patricia kelly batista de andrade <patriciakellyb@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Fri, 11 Sep 2009 21:42:43 -0300

Concordando com a Elaine, e não tão paradoxalmente, com a Patricia Borges.
Quando falamos em casamento, há uma tremenda confusão com o que atualmente
buscamos e o que tal convenção significou até muito pouco tempo atrás (na
época de nossos pais ou avós).
Entendo este conceito mais atual como uma união voluntária de duas pessoas,
lealdade, cumplicidade, companheirismo, prazer e vontade de permanecer
juntos POR OPÇÃO, ou seja, por julgar que assim é melhor para prosseguir
vivenciando tanto as dores quanto as alegrias inerentes à vida, sejam elas
racionalizadas, entendidas ou não, caro Luís.
Nesse conceito atual, com as mudanças individuais de objetivos frente às
novas situações vivenciadas pode se chegar à conclusão de que não se quer
mais permanecer juntos. Conversar, acertar, ajustar ou, se não mais for a
melhor opção, separar, ora.
Se tivermos a coragem de sermos sinceros conosco mesmos e com o outro,
acredito que isso seja possível sem maiores atritos e mantendo-se uma boa
amizade até. Bom, é apenas uma opinião. Ainda não passei pela experiência de
separação, estou casada há 15 anos e, há uns 7 anos, me vi na contingência
de ter que "ajudar" meus pais a terminarem um casamento de mais de 30 anos.
Creio que este conceito entra em total conflito com o que casamento
significava até muito pouco tempo, na época em que permanecer juntos para
manter o patrimônio e dividir as tarefas mais nitidamente femininas e
masculinas numa família era o mais conveniente. Prosperidade material e
longa duração eram sinônimos de bom casamento, e as pessoas sentiam-se
felizes com isso.
Hoje, queremos muito mais para sermos felizes, prosperidade material não
basta, e aí a coisa fica ligeiramente
mais complicada, porque o que buscamos individualmente varia muitíssimo de
pessoa para pessoa, de momento para momento, enfim, é supercomplexo e
dificílimo de ser enquadrado em receitas ou teorias prontas.
O ser humano é um bichinho extremamente complexo, seja homem ou mulher,
capaz de reinventar-se a cada momento e modificar o meio não só ambiental,
mas social, em que vive.
Não gosto de excessos de classificações e enquadramentos científicos, embora
concorde que ajudam a entender um pouco de nós mesmos e nossas dores, mas
como tão bem repete o Luís, ajuda a racionalizar e entender as dores, mas
não as erradica.
Contudo, cada um encontrar o seu caminho, livres de convenções sociais, não
é apenas utopia, mas muitíssimo mais complexo do que seguir receitas
prontas. Então, até certo ponto, ceder conscientemente a convenções sociais
pode sim ser uma experiência interessante, desde que não seja
escravizando-se por elas.
Um relacionamento não é algo pronto e estável para vida toda, mas é
construído a aperfeiçoado a cada momento conforme as circunstâncias e as
compatibilizações das mudanças individuais, quando ainda é possível
compatibilizá-las, claro.
Bom, espero ter contribuído de alguma forma para o debate...
E, claro, vou mandar cópias deste para compartilhar a reflexão com o
digníssimo...



2009/9/11 Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx>

> Entendo que quando estamos falando de casamento estamos nos referindo à
> união de duas pessoas, e não do contrato social.
> Aceito a teoria de que o casamento formal foi criado após a descoberta do
> papel do homem na fecundidade, mas a união dos casais já existia muito antes
> do exercício do patrimonialismo e das religiões castradoras. E existe ainda
> hoje, nas culturas que não praticam as mesmas regras morais e/ou econômicas
> nossas. Mesmo na pré-história, há registros de "casamentos", não formais,
> claro.
> Quanto à felicidade, excetuando causas extremas, acredito que seja
> realmente uma opção pessoal.
>
> 2009/9/11 Patricia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx>
>
>  O casamento, infelizmente ou não, não é intrínseco à natureza humana. Foi
>> criado por conveniências econômicas, depois que o homem descobriu que
>> participava da fecundação. Qdo ele não sabia disso, a vida de todos era bem
>> melhor rsrs. A finalidade foi a de "cercar" a mulher para garantir que os
>> bens não parassem nas mãos de filhos não legítimos. A idéia de que o prazer
>> sexual é pecado tb teve conveniências econômicas. Então estabeleceram que
>> tal prazer só poderia existir dentro do casamento e inventaram a fidelidade.
>> A natureza do ser humano contraria as convenções sociais, nos conformemos ou
>> não com isso. E a maioria de tais convenções tiveram objetivos
>> econômicos/religiosos.
>> Não acho q seja melhor ser solteiro do que casado, ou vice-versa. Tem
>> gente pra tudo.... rsrs Temporariamente, tudo é bom e tb ruim. Pena que a
>> satisfação das duas situações não é eterna. Se assim fosse, as pessoas
>> seriam muito mais felizes.
>>
>>  ----- Original Message -----
>> *From:* Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx>
>> *To:* analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
>>   *Sent:* Friday, September 11, 2009 11:06 AM
>> *Subject:* [Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....
>>
>> O que mais me deixa intrigada nessas discussões sobre casamento é o fato
>> das pessoas não analisarem a outra opção. Sim, porque casamento tem um monte
>> de defeito, mas ser solteiro tem tantos outros e até mais. Ou seja, os
>> probleas não estão ligados à nossa situação conjugal, mas sim ao fato de
>> sermos adultos e temos todas as questões não resolvidas para enfrentar. E
>> isso às vêzes é muito pesado, então o casamento leva a vantagem de nos
>> permitir dividir o peso com outra pessoa: cúmplice, companheiro, culpado, a
>> escolha é sua!
>> Outro ponto importante: o casamento é uma das três datas que
>> são celebradas em TODAS as culturas, de qualquer época - nascimento,
>> casamento e morte. Então deve ser intrínseco à natureza humana.
>> Eu mesma sou uma "convertida", sempre pensei em nunca me casar, pois
>> via os exemplos dos mais velhos. E nem sei bem em qual desvio do caminho me
>> vi casada, e lá se vão 26 anos. E pensando bem, acho que saí lucrando. Mas
>> não foi fácil, muitos acertos tiveram que ser feitos, muita "reprogramação",
>> mas sempre achei que se a pessoa valia a pena, as tentativas também deveriam
>> valer. E para os iniciantes, uma boa notícia: vai  ficando mais fácil e
>> melhor, com o passar do tempo (se vocês tiverem o propósito de continuarem
>> e serem felizas - veja bem, isso É UMA OPÇÂO!).
>> Boa sorte para os que vão continuar a viagem,
>> Elaine
>>
>>
>>
>> 2009/9/11 Paula Santos <paulabozzer@xxxxxxxxx>
>>
>>> Luís,
>>> Acho que se só parássemos de preparar as crianças para serem
>>> completamente opostos já seria o suficiente. Não é uma contradição
>>> treinarmos a infância inteira para agirmos de formas tão diferentes e
>>> depois sermos "obrigados" a conviver com isso? É claro que as mulheres vão
>>> reclamar do futebol, assim como os homens vão reclamar das compras.
>>> Infelizmente somos criados para sermos opostos, mas não complementares.
>>> []s,
>>> Paula
>>>
>>>  2009/9/10 Luís Nobre <luis.cnobre@xxxxxxxxx>
>>>
>>>> Concordo parcialmente. Tudo muda, as pessoas mudam. O homem muda, a
>>>> mulher muda, o meio que os cerca muda, para um ou outro ou para ambos.
>>>> Ganha-se experiência, você adquire outros prismas, joga outros fora. Prá 
>>>> mim
>>>> esse texto me lembrou aquela piada que diz que casamento é como o 
>>>> submarino:
>>>> pode até flutuar, mas foi feito mesmo para afundar. Uma pergunta: supondo
>>>> que homens e mulheres fossem melhor instruídos/preparados para uma vida a
>>>> dois (isso incluiria terapia já na adolescência, leitura de livros e 
>>>> artigos
>>>> tratando do assunto, aprender com os erros dos já casados, etc), o número 
>>>> de
>>>> laços matrimoniais aumentaria ou diminuiria? E o número de divórcios
>>>> daqueles que mesmo sabendo dessa programação (porque é isso que o artigo
>>>> abaixo nos diz, ou seja, somos programados a procurar alguém para nos
>>>> livrarmos da culpa do fracasso) resolveram contrair (isso é uma doença?)
>>>> matrimônio?
>>>>
>>>> abç
>>>> Luís
>>>>
>>>>
>>>>
>>>> 2009/9/10 Patrícia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx>
>>>>
>>>>> Casamentos possíveis
>>>>>
>>>>>
>>>>> Contardo Calligaris
>>>>>
>>>>> Em geral, a gente casa com a pessoa certa: com quem podemos culpar por
>>>>> nossos fracassos
>>>>>
>>>>>
>>>>> UMA DAS boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados,
>>>>> podemos culpar o casal por boa parte de nossas covardias e impotências.
>>>>> O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento
>>>>> por ele ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em 
>>>>> seu
>>>>> peito. A decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em
>>>>> acusação: "Você está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem
>>>>> de querer".
>>>>> Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente
>>>>> masculinas.
>>>>> Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios
>>>>> de grandeza -como se algum destino extraordinário e inalcançável já 
>>>>> tivesse
>>>>> sido sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante 
>>>>> de
>>>>> tamanha expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento.
>>>>> As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar
>>>>> graça nas serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam
>>>>> facilmente, para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos 
>>>>> que
>>>>> eles não têm a ousadia de realizar.
>>>>> Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido,
>>>>> os filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida 
>>>>> (eventualmente,
>>>>> profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo,
>>>>> para muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e 
>>>>> irresistível,
>>>>> do qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e 
>>>>> casamento.
>>>>> Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de
>>>>> cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary 
>>>>> se
>>>>> queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair
>>>>> pelos bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes.
>>>>> Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é
>>>>> que os sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor,
>>>>> pois eles derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus
>>>>> filhos, e, claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um
>>>>> dom-juan, mas raramente esperará ser substituída por outra mulher no 
>>>>> coração
>>>>> do filho.
>>>>> Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de
>>>>> divórcio. Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da
>>>>> acusação ("É por sua causa que deixei de realizar meus sonhos"), ouve-se:
>>>>> "Ainda bem que você está aqui, do meu lado, fornecendo-me assim uma 
>>>>> desculpa
>>>>> -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que eu mesmo não
>>>>> paro de trair meus próprios sonhos".
>>>>> Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa "certa": a que podemos
>>>>> culpar por nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para
>>>>> separar-se. Ao contrário, seria uma boa razão para ficar juntos.
>>>>> Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido
>>>>> frustrados "por causa do outro", mas pelas "cobranças", que, elas sim, 
>>>>> podem
>>>>> se revelar insuportáveis.
>>>>> Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa
>>>>> dela que eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais
>>>>> tentar minha sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até
>>>>> aqui, tudo bem. Como compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo 
>>>>> as
>>>>> tardes de domingo afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time
>>>>> marca um gol, mas eis que, no meio do jogo, minha mulher me pede para
>>>>> brincar com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário 
>>>>> para
>>>>> o café - logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou
>>>>> negociando a paz entre os senhores da guerra da Somália.
>>>>> Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa
>>>>> constatação do fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me
>>>>> consolo. Talvez, aliás, ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na
>>>>> vida concreta, nos afetos cotidianos. Mas não é o que acontece: o que 
>>>>> ouço é
>>>>> mais uma voz que confirma minha insuficiência.
>>>>> À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de
>>>>> quem foi (ou é) "causa" de minha desistência e razão de meu "sacrifício":
>>>>> "Olhe só, mesmo assim, ela não está satisfeita comigo." Em suma, não 
>>>>> presto,
>>>>> nunca, para mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói 
>>>>> nem
>>>>> para a esposa para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta.
>>>>> O ideal seria aceitar que nosso par nos acuse de seus fracassos e, além
>>>>> disso, não lhe pedir nada. Difícil.
>>>>>
>>>>>
>>>>
>>>
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