Essa discussão me lembrou um texto de Martha Medeiros que recebi há um tempo atrás: A prisão de cada umO psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão na qual quer viver. Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo, mas é impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração. Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum comportamento para vestir. No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua sem um crachá de identificação pendurado no pescoço. Diga-me qual é a sua tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura. São cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e hábeas corpus, nem pensar. O casamento pode ser uma prisão. E a maternidade, a pena máxima. Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia. Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza. Viver sem laços igualmente pode nos reter. Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também. Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho. Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados. É uma opção consciente. Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes. Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós nascer foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão. Brindemos: temos todos, cela especial. Martha Medeiros --- Em sex, 11/9/09, Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx> escreveu: De: Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx> Assunto: Re: [Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto.... Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Data: Sexta-feira, 11 de Setembro de 2009, 13:36 Gostei Elaine... Acho que é por aí mesmo... Eu, que já estou solteira há um tempinho, fico observando o quanto as pessoas solteiras reclamam de estar solteira e as casadas reclamam de estar casadas... Nada é perfeito nessa vida. O importante é optarmos por ser felizes "no matter what"! :-) --- Em sex, 11/9/09, Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx> escreveu: De: Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx> Assunto: [Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto.... Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Data: Sexta-feira, 11 de Setembro de 2009, 11:06 O que mais me deixa intrigada nessas discussões sobre casamento é o fato das pessoas não analisarem a outra opção. Sim, porque casamento tem um monte de defeito, mas ser solteiro tem tantos outros e até mais. Ou seja, os probleas não estão ligados à nossa situação conjugal, mas sim ao fato de sermos adultos e temos todas as questões não resolvidas para enfrentar. E isso às vêzes é muito pesado, então o casamento leva a vantagem de nos permitir dividir o peso com outra pessoa: cúmplice, companheiro, culpado, a escolha é sua! Outro ponto importante: o casamento é uma das três datas que são celebradas em TODAS as culturas, de qualquer época - nascimento, casamento e morte. Então deve ser intrínseco à natureza humana. Eu mesma sou uma "convertida", sempre pensei em nunca me casar, pois via os exemplos dos mais velhos. E nem sei bem em qual desvio do caminho me vi casada, e lá se vão 26 anos. E pensando bem, acho que saí lucrando. Mas não foi fácil, muitos acertos tiveram que ser feitos, muita "reprogramação", mas sempre achei que se a pessoa valia a pena, as tentativas também deveriam valer. E para os iniciantes, uma boa notícia: vai ficando mais fácil e melhor, com o passar do tempo (se vocês tiverem o propósito de continuarem e serem felizas - veja bem, isso É UMA OPÇÂO!). Boa sorte para os que vão continuar a viagem, Elaine 2009/9/11 Paula Santos <paulabozzer@xxxxxxxxx> Luís, Acho que se só parássemos de preparar as crianças para serem completamente opostos já seria o suficiente. Não é uma contradição treinarmos a infância inteira para agirmos de formas tão diferentes e depois sermos "obrigados" a conviver com isso? É claro que as mulheres vão reclamar do futebol, assim como os homens vão reclamar das compras. Infelizmente somos criados para sermos opostos, mas não complementares. []s, Paula 2009/9/10 Luís Nobre <luis.cnobre@xxxxxxxxx> Concordo parcialmente. Tudo muda, as pessoas mudam. O homem muda, a mulher muda, o meio que os cerca muda, para um ou outro ou para ambos. Ganha-se experiência, você adquire outros prismas, joga outros fora. Prá mim esse texto me lembrou aquela piada que diz que casamento é como o submarino: pode até flutuar, mas foi feito mesmo para afundar. Uma pergunta: supondo que homens e mulheres fossem melhor instruídos/preparados para uma vida a dois (isso incluiria terapia já na adolescência, leitura de livros e artigos tratando do assunto, aprender com os erros dos já casados, etc), o número de laços matrimoniais aumentaria ou diminuiria? E o número de divórcios daqueles que mesmo sabendo dessa programação (porque é isso que o artigo abaixo nos diz, ou seja, somos programados a procurar alguém para nos livrarmos da culpa do fracasso) resolveram contrair (isso é uma doença?) matrimônio? abç Luís 2009/9/10 Patrícia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx> Casamentos possíveis Contardo Calligaris Em geral, a gente casa com a pessoa certa: com quem podemos culpar por nossos fracassos UMA DAS boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados, podemos culpar o casal por boa parte de nossas covardias e impotências. O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento por ele ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em seu peito. A decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em acusação: "Você está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem de querer". Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente masculinas. Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios de grandeza -como se algum destino extraordinário e inalcançável já tivesse sido sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante de tamanha expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento. As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar graça nas serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam facilmente, para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos que eles não têm a ousadia de realizar. Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido, os filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida (eventualmente, profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo, para muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e irresistível, do qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e casamento. Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary se queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair pelos bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes. Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é que os sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor, pois eles derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus filhos, e, claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um dom-juan, mas raramente esperará ser substituída por outra mulher no coração do filho. Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de divórcio. Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da acusação ("É por sua causa que deixei de realizar meus sonhos"), ouve-se: "Ainda bem que você está aqui, do meu lado, fornecendo-me assim uma desculpa -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que eu mesmo não paro de trair meus próprios sonhos". Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa "certa": a que podemos culpar por nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para separar-se. Ao contrário, seria uma boa razão para ficar juntos. Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido frustrados "por causa do outro", mas pelas "cobranças", que, elas sim, podem se revelar insuportáveis. Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa dela que eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais tentar minha sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até aqui, tudo bem. Como compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo as tardes de domingo afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time marca um gol, mas eis que, no meio do jogo, minha mulher me pede para brincar com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário para o café - logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou negociando a paz entre os senhores da guerra da Somália. Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa constatação do fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me consolo. Talvez, aliás, ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na vida concreta, nos afetos cotidianos. Mas não é o que acontece: o que ouço é mais uma voz que confirma minha insuficiência. À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de quem foi (ou é) "causa" de minha desistência e razão de meu "sacrifício": "Olhe só, mesmo assim, ela não está satisfeita comigo." Em suma, não presto, nunca, para mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói nem para a esposa para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta. O ideal seria aceitar que nosso par nos acuse de seus fracassos e, além disso, não lhe pedir nada. Difícil. Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes ____________________________________________________________________________________ Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! +Buscados http://br.maisbuscados.yahoo.com