[Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....

  • From: Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Sun, 13 Sep 2009 08:42:33 -0700 (PDT)

Essa discussão me lembrou um texto de Martha Medeiros que recebi há um tempo 
atrás:



  
 
  
   
  
  
  
  
  
  
  
  A prisão de cada umO
  psiquiatra Paulo Rebelato, em entrevista para a revista gaúcha Red 32, disse
  que o máximo de liberdade que o ser humano pode aspirar é escolher a prisão
  na qual quer viver. Pode-se aceitar esta verdade com pessimismo ou otimismo,
  mas é impossível refutá-la. A liberdade é uma abstração. 

  

  Liberdade não é uma calça velha, azul e desbotada, e sim, nudez total, nenhum
  comportamento para vestir. No entanto, a sociedade não nos deixa sair à rua
  sem um crachá de identificação pendurado no pescoço. Diga-me qual é a sua
  tribo e eu lhe direi qual é a sua clausura.

  

  São cativeiros bem mais agradáveis do que o Carandiru: podemos pegar sol, ler
  livros, receber amigos, comer bons pratos, ouvir música, ou seja, uma cadeia
  à moda Luis Estevão, só que temos que advogar em causa própria e hábeas
  corpus, nem pensar.

  

  O casamento pode ser uma prisão. E a maternidade, a pena máxima. Um emprego
  que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e
  arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia. Tudo que
  lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza. Viver sem laços igualmente
  pode nos reter. 

  

  Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu
 como limite: prisão também. Você se condena
  a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa
  estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através
  de um filho. Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres,
  aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é
  que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados. É uma
  opção consciente. 

  

  Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio
  real, entre quatro paredes. Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é
  branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós nascer foram
  trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria e exclusão. 

  

  Brindemos: temos todos, cela especial. 

  

  Martha Medeiros

--- Em sex, 11/9/09, Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx> escreveu:

De: Cintia Abreu <cintiabreu@xxxxxxxxxxxx>
Assunto: Re: [Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Data: Sexta-feira, 11 de Setembro de 2009, 13:36

Gostei Elaine... Acho que é por aí mesmo... Eu, que já estou solteira há um 
tempinho, fico observando o quanto as pessoas solteiras reclamam de estar 
solteira e as casadas reclamam de estar casadas... Nada é perfeito nessa vida. 
O importante é optarmos por ser felizes "no matter what"! :-)

--- Em sex, 11/9/09, Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx> 
escreveu:


De: Elaine Oliveira <elainerodriguesdeoliveira@xxxxxxxxx>
Assunto: [Camaradas/Unalegis] Re: Meu assunto predileto....
Para: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
Data: Sexta-feira, 11 de Setembro de 2009, 11:06



O que mais me deixa intrigada nessas discussões sobre casamento é o fato das 
pessoas não analisarem a outra opção. Sim, porque casamento tem um monte de 
defeito, mas ser solteiro tem tantos outros e até mais. Ou seja, os probleas 
não estão ligados à nossa situação conjugal, mas sim ao fato de sermos adultos 
e temos todas as questões não resolvidas para enfrentar. E isso às vêzes é 
muito pesado, então o casamento leva a vantagem de nos permitir dividir o peso 
com outra pessoa: cúmplice, companheiro, culpado, a escolha é sua! 
Outro ponto importante: o casamento é uma das três datas que são celebradas 
em TODAS as culturas, de qualquer época - nascimento, casamento e morte. Então 
deve ser intrínseco à natureza humana. 
Eu mesma sou uma "convertida", sempre pensei em nunca me casar, pois via os 
exemplos dos mais velhos. E nem sei bem em qual desvio do caminho me vi casada, 
e lá se vão 26 anos. E pensando bem, acho que saí lucrando. Mas não foi fácil, 
muitos acertos tiveram que ser feitos, muita "reprogramação", mas sempre achei 
que se a pessoa valia a pena, as tentativas também deveriam valer. E para os 
iniciantes, uma boa notícia: vai  ficando mais fácil e melhor, com o passar do 
tempo (se vocês tiverem o propósito de continuarem  e serem felizas - veja bem, 
isso É UMA OPÇÂO!).
Boa sorte para os que vão continuar a viagem,
Elaine


 
2009/9/11 Paula Santos <paulabozzer@xxxxxxxxx>


Luís,
Acho que se só parássemos de preparar as crianças para serem completamente 
opostos já seria o suficiente. Não é uma contradição treinarmos a infância 
inteira para agirmos de formas tão diferentes e depois sermos "obrigados" a 
conviver com isso? É claro que as mulheres vão reclamar do futebol, assim como 
os homens vão reclamar das compras. Infelizmente somos criados para sermos 
opostos, mas não complementares.
[]s,
Paula



2009/9/10 Luís Nobre <luis.cnobre@xxxxxxxxx>

Concordo parcialmente. Tudo muda, as pessoas mudam. O homem muda, a mulher 
muda, o meio que os cerca muda, para um ou outro ou para ambos. Ganha-se 
experiência, você adquire outros prismas, joga outros fora. Prá mim esse texto 
me lembrou aquela piada que diz que casamento é como o submarino: pode até 
flutuar, mas foi feito mesmo para afundar. Uma pergunta: supondo que homens e 
mulheres fossem melhor instruídos/preparados para uma vida a dois (isso 
incluiria terapia já na adolescência, leitura de livros e artigos tratando do 
assunto, aprender com os erros dos já casados, etc), o número de laços 
matrimoniais aumentaria ou diminuiria? E o número de divórcios daqueles que 
mesmo sabendo dessa programação (porque é isso que o artigo abaixo nos diz, ou 
seja, somos programados a procurar alguém para nos livrarmos da culpa do 
fracasso)
 resolveram contrair (isso é uma doença?) matrimônio? 




abç
Luís




2009/9/10 Patrícia Borges de Carvalho <pcborges@xxxxxxxxxxxx>

Casamentos possíveis


Contardo Calligaris

Em geral, a gente casa com a pessoa certa: com quem podemos culpar por nossos 
fracassos


UMA DAS boas razões para se casar é a seguinte: uma vez casados, podemos culpar 
o casal por boa parte de nossas covardias e impotências.
O marido, por exemplo, pode responsabilizar mulher, filhos e casamento por ele 
ter desistido de ser o aventureiro que ainda dorme, inquieto, em seu peito. A 
decepção consigo mesmo é menos amarga quando é transformada em acusação: "Você 
está me impedindo de alcançar o que eu não tenho a coragem de querer".
Essas recriminações, que disfarçam nossos fracassos, não são unicamente
 masculinas.
Certo, os homens são quase sempre assombrados por impossíveis devaneios de 
grandeza -como se algum destino extraordinário e inalcançável já tivesse sido 
sonhado para eles (e foi mesmo, geralmente pelas suas mães). Diante de tamanha 
expectativa, é cômodo alegar que o casal foi o impedimento.
As mulheres, inversamente, seriam mais pé-no-chão, capazes de achar graça nas 
serventias do cotidiano. Por isso mesmo, aliás, elas encarnariam facilmente, 
para os homens, os limites que a realidade impõe aos sonhos que eles não têm a 
ousadia de realizar.
Agora, as mulheres também sonham. Há a dona de casa que acusa o marido, os 
filhos e o casamento por ela ter desistido de outra vida (eventualmente, 
profissional), que teria sido fonte de maiores alegrias. E há, sobre tudo, para 
muitas mulheres, um sonho romântico de amor avassalador e irresistível, do 
qual, justamente, elas desistem por causa de marido, filhos e
 casamento.
Com isso, d. Quixote se queixa de que sua mulher esconde seus livros de 
cavalaria e o impede de sair à cata de moinhos de vento. E Madame Bovary se 
queixa de que seu marido esconde seus livros de amor e a impede de sair pelos 
bailes, à cata de paixões sublimes e elegantes.
Pena que raramente eles consigam ter os mesmos sonhos. Um problema é que os 
sonhos dos homens podem ser de conquista, mas dificilmente de amor, pois eles 
derivam diretamente das esperanças que as mães depositam em seus filhos, e, 
claro, uma mãe pode esperar que seu rebento varão seja um dom-juan, mas 
raramente esperará ser substituída por outra mulher no coração do filho.
Não pense que esse fogo cruzado de acusações seja causa recorrente de divórcio. 
Ao contrário, ele faz a força do casamento, pois, atrás da acusação ("É por sua 
causa que deixei de realizar meus sonhos"), ouve-se: "Ainda bem que você está 
aqui, do meu lado, fornecendo-me
 assim uma desculpa -sem você, eu teria de encarar a verdade, e a verdade é que 
eu mesmo não paro de trair meus próprios sonhos".
Ou seja, em geral, a gente casa com a pessoa "certa": a que podemos culpar por 
nossos fracassos. E essa, repito, não é uma razão para separar-se. Ao 
contrário, seria uma boa razão para ficar juntos.
Quando a coisa aperta, não é porque sonhos e devaneios teriam sido frustrados 
"por causa do outro", mas pelas "cobranças", que, elas sim, podem se revelar 
insuportáveis.
Um exemplo masculino. Uma mulher me permite acreditar que é por causa dela que 
eu não consigo ser o que quero: graças a Deus, não posso mais tentar minha 
sorte no garimpo agora que tenho esposa, filhos e tal. Até aqui, tudo bem. Como 
compensação pelos sonhos dos quais eu desisti, passo as tardes de domingo 
afogando num sofá e soltando foguetes quando meu time marca um gol, mas eis 
que, no meio do jogo, minha mulher me pede para brincar
 com as crianças ou para ir até à padaria e comprar o necessário para o café - 
logo a mim, que deveria estar explorando as fontes do Nilo ou negociando a paz 
entre os senhores da guerra da Somália.
Essa cobrança, aparentemente chata, poderia salvar-me da morosa constatação do 
fracasso de meus sonhos e das ninharias com as quais me consolo. Talvez, aliás, 
ela me ajudasse a encontrar prazer e satisfação na vida concreta, nos afetos 
cotidianos. Mas não é o que acontece: o que ouço é mais uma voz que confirma 
minha insuficiência.
À cobrança dos sonhos dos quais desisti acrescenta-se a cobrança de quem foi 
(ou é) "causa" de minha desistência e razão de meu "sacrifício": "Olhe só, 
mesmo assim, ela não está satisfeita comigo." Em suma, não presto, nunca, para 
mulher alguma -nem para a mãe que queria que eu fosse herói nem para a esposa 
para quem renunciei a ser herói. E a corda arrebenta.
O ideal seria aceitar que nosso
 par nos acuse de seus fracassos e, além disso, não lhe pedir nada. Difícil.








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